O economista paraibano Maílson da Nóbrega é um dos dez ex-ministros da Fazenda ou Economia que aceitaram escrever cartas dando conselhos ou sugestões ao superministro da Economia do governo Bolsonaro, Paulo Guedes, expoente do pensamento liberal e que comandará as pastas da Fazenda, Planejamento e Indústria e Comércio. A redação das cartas foi proposta pela revista Época, que as publicou na sua última edição. Os antecessores, de um modo geral, apontam que o dragão da inflação será substituído pelo buraco negro do déficit público como vilão do superministro Paulo Guedes, mas dizem torcer pelo seu êxito.
Maílson, que atua em São Paulo como consultor de mercado, começa a correspondência parabenizando Paulo Guedes e afirmando que ele será peça-chave na resolução do que constituem, a seu ver, os três mais sérios desafios da próxima gestão: evitar a insolvência fiscal, elevar a produtividade da economia e enfrentar uma grave crise fiscal dos Estados, que envolverá, segundo estima, pelo menos 20 deles. Do adequado tratamento desses desafios, dependerão o controle da inflação e o crescimento da economia. Sua capacidade será posta a teste, afirma Maílson, acrescentando que muito será exigido de Guedes. Por isso não entendi a decisão de fundir as pastas da Fazenda, do Planejamento e da Indústria, Comércio e Serviços.
O economista paraibano, que foi ministro da Fazenda no governo de José Sarney, entre 1987 e início de 1990, previne que não é o título de superministro que fará de Guedes um dos mais destacados membros do governo. Será você mesmo. É preciso preparar-se, assim, para trabalhar muito mais do que no setor privado. Somente as atividades do Ministério da Fazenda demandavam dez a 12 horas por dia do ministro, relembra Maílson. Que acrescenta: Claro, você pode delegar funções aos seus oito super-secretários, mas isso não se faz como no setor privado. Inúmeras das atribuições do ministro são indelegáveis. Você participará de outras atividades do governo como membro de vários conselhos interministeriais onde a presença do ministro é exigida. Comparecerá a várias sessões no Congresso. Por sua posição e pelo respeito por parte do presidente, você será naturalmente convocado para incontáveis reuniões no Palácio do Planalto e no Palácio da Alvorada. Você viajará várias vezes ao exterior para participar de reuniões do Fundo Monetário Internacional, do Grupo dos 20 e de outros eventos relevantes. Receberá empresários em seu gabinete. Não poderá negar-se a comparecer a encontros fora de Brasília para abrir seminários, presidir a posse de diretorias de associações de classe e entregar prêmios. São oportunidades para estreitar relacionamentos e transmitir sua mensagem a públicos de alta representatividade. É preciso reservar um bom tempo para tudo isso.
Maílson da Nóbrega pondera ainda ao futuro ministro Paulo Guedes: Sua autonomia lhe permitiu escolher competentes auxiliares. É aconselhável manter estreito contato com eles, em reuniões para avaliar a conjuntura econômica, identificar riscos e discutir estratégias para enfrentar os desafios. Será essencial influir na definição da agenda de reformas. Sem uma reforma ousada e abrangente da Previdência, você sabe, será difícil fazer a economia crescer com estabilidade de preços e, assim, cumprir promessas de campanha. Por isso, sugiro que busque convencer o presidente de que todo o seu capital político seja empregado nessa tarefa. Seria bom não consumi-lo com outros projetos no início do governo. Haverá tempo para tratar deles depois da Previdência. Congestionar a pauta no começo não é recomendável. Por último, Maílson da Nóbrega ressalta: Será preciso paciência para ouvir e humildade para aceitar boas ideias, ainda que não sejam suas. Você tem prestígio, energia, vontade, equipe e conhecimentos para se sair bem na empreitada. O Brasil torce por seu sucesso, eu incluído.
Nonato Guedes