A nova bancada federal da Paraíba que se investirá em 2019 não tem canais maiores de interlocução com o futuro presidente Jair Bolsonaro (PSL) para demandar com presteza pleitos de interesse da população do Estado. O interlocutor com mais fácil acesso ao presidente vinha sendo o deputado federal eleito Julian Lemos, que nos últimos dias entrou em rota de colisão com filhos do próprio Bolsonaro, a ponto de um deles insinuar que Lemos era papagaio de pirata e, ao mesmo tempo, desmentir que Julian fosse coordenador da campanha de Jair no Nordeste. O deputado federal eleito refutou as insinuações e diz que até em vídeo Bolsonaro deixou claro esse papel.
Julian Lemos é um dos novatos da representação parlamentar paraibana. Com laços políticos e empresariais firmados em Campina Grande, ele alcançou votação expressiva, embora fosse ilustre desconhecido na mídia e junto a políticos veteranos. Seus dois suplentes são o capitão Antônio e a jornalista Pâmela Bório, ex-esposa do governador Ricardo Coutinho e, portanto, ex-primeira dama do Estado. Os deputados Aguinaldo Ribeiro, do PP Hugo Motta, do PRB, Edna Henrique, do PSDB ensaiaram desde a vitória de Bolsonaro passos de aproximação com ele. O tucano Ruy Carneiro, que volta à Câmara dos Deputados, esteve, inclusive, no escritório de transição do novo governo em Brasília, mas o deputado reeleito Pedro Cunha Lima não demonstrou o mesmo interesse.
Há deputados, alinhados com o atual governador Ricardo Coutinho, que num primeiro momento estão mantendo distância de Bolsonaro, como o Frei Anastácio Ribeiro, do PT, Gervásio Maia, do PSB e Damião Feliciano, do PDT, esposo da vice-governadora reeleita Lígia Feliciano. Wilson Santiago, do PTB, cujo diretório estadual preside, está retomando agora seu mandato na Câmara Federal depois de uma operação em Wilson Filho, atual federal, concorreu à Assembleia Legislativa e foi eleito. Nem Santiago nem o deputado Wellington Roberto, do PR, sinalizaram qualquer posição até agora. Efraim Filho, do Democratas, tem postura flexível, mas é alinhado com o esquema de Ricardo e do governador eleito João Azevedo. O cenário no Senado é mais complexo ainda. Na próxima legislatura, atuarão como senadores José Maranhão (MDB), Veneziano Vital do Rêgo, do PSB, e Daniella Ribeiro, do PP. Nenhum dos três tem emitido sinais de apoio ou alinhamento na base de Bolsonaro.
De um modo geral, o consenso dominante na bancada federal paraibana que vai atuar a partir de 2019 é o de que não deve haver postura de radicalismo no sentido de prejudicar projetos de interesse da Paraíba. O presidente eleito fez chegar à mídia paraibana, através de emissários confiáveis, que não tem pretensões de retaliar a Paraíba, independente da parca votação aqui obtida. O governador que vai tomar posse, João Azevedo, do PSB, estrategicamente juntou-se ao Fórum de Governadores para uma pressão conjunta mais eficaz em torno dos pleitos da Paraíba. Enquanto Ricardo Coutinho radicalizou nas críticas a Jair Bolsonaro, João Azevedo tem tido posição moderada, típica de quem ainda está explorando o terreno para só então se posicionar. O empresário Ney Suassuna, que figura como suplente do senador Veneziano Vital do Rêgo, poderá ser útil para contornar arestas contrárias ao interesse do Estado. Quando exerceu mandato de senador pela Paraíba, Ney era qualificado como trator pela capacidade de abrir portas de gabinetes ministeriais e aquinhoar a Paraíba com recursos e obras.
Nonato Guedes