O prefeito licenciado de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV), prepara-se para uma relação tensa com o governador João Azevedo (PSB), segundo confessam fontes ligadas ao chefe do executivo da Capital. Essas fontes ressaltam que a relação poderá ser tão ou mais complicada ainda do que a convivência com o governador Ricardo Coutinho, que está se despedindo de oito anos de mandato. Luciano, que tirou licença por nove dias, passando o cargo ao vice Manoel Júnior, chegou a insinuar publicamente que Azevedo não teria autonomia de voo dada a ligação intrínseca com Ricardo e a gratidão que tem a este por apostar na sua candidatura e empenhar-se de forma decisiva na campanha que agregou pesos-pesados da política paraibana, além do irmão gêmeo do prefeito, Lucélio, que foi o segundo colocado.
Há um vasto contencioso de demandas entre a prefeitura de João Pessoa e o governo do Estado. Além do mais, algumas das intervenções públicas na Capital passam por entendimento com a administração estadual porque envolvem esferas de competência e responsabilidade no equacionamento de problemas. Se não houver um entendimento mínimo, acrescentam os informantes, a população de João Pessoa corre o risco de ser penalizada em termos de investimentos e obras de infraestrutura. A questão das competências já produziu divergências acirradas entre o atual gestor estadual e o alcaide municipal. Nos últimos dias, Ricardo Coutinho queixou-se de que estava sendo obrigado a fazer intervenções no varejo na fisionomia de João Pessoa por causa da omissão da gestão de Luciano Cartaxo.
O prefeito contrapõe a tais acusações o relato de que a administração socialista estadual recusa-se a fazer parcerias com um adversário político, esquecendo que a postura redunda em prejuízos para a coletividade. Foram inúmeros os apelos de Luciano Cartaxo a Ricardo Coutinho para a fixação de parâmetros mínimos de relacionamento institucional como parte da estratégia de contemplar a Capital. Ricardo foi prefeito de João Pessoa em duas gestões e é natural da Capital. Desde agora começa-se a falar na perspectiva de Coutinho voltar a disputar a prefeitura em 2020. O atual governador rebateu que não tem ambição nesse sentido mas deixou claro que o projeto socialista terá candidatura forte à sucessão pessoense. Nas duas vezes em que foi titular da administração em João Pessoa, Ricardo contou com vices diferentes inicialmente Manoel Júnior, que era filiado ao PMDB em 2004 e, em 2018, Luciano Agra, já falecido, que acabou completando o mandato de Ricardo, que se desincompatibilizara para concorrer ao governo do Estado.
No período como governador, Ricardo lutou para emplacar as candidaturas de Estelizabel Bezerra e Cida Ramos à prefeitura pessoense. Ambas tiveram boa performance mas não se cristalizou o fenômeno da transferência de votos e elas não passaram, sequer, para o segundo turno. Numa das rodadas decisivas, Luciano derrotou, também, o ex-senador Cícero Lucena, do PSDB. O atual prefeito saiu derrotado na campanha estadual deste ano, com a candidatura do seu irmão gêmeo Lucélio Cartaxo, tendo como vice Micheline Rodrigues, esposa do prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues. O prefeito ainda não tem ideia de como ficarão os espaços do seu grupo político após a investidura de João Azevedo. Antecipou que não pretende apressar discussões a esse respeito, remetendo-as para o tempo oportuno.
Nonato Guedes