Deputado federal por um partido até então inexpressivo, o PSL, e com uma atuação parlamentar também inexpressiva, como representante do Rio de Janeiro, Jair Messias Bolsonaro, capitão reformado do Exército, emergiu das urnas em 2018 como o grande fenômeno, elegendo-se presidente da República em segundo turno contra o Partido dos Trabalhadores, que tinha um candidato laranja, o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e um padrinho forte, no papel de vítima o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso desde abril acusado de corrupção e lavagem de dinheiro. Bolsonaro vitoriou com propostas conservadoras, bastante caras a segmentos médios da sociedade brasileira que não suportam mais os escândalos de corrupção e a escalada de violência por parte da bandidagem.
Recorrendo a uma linguagem agressiva, que em inúmeros momentos descambou para o paroxismo ou o incitamento à radicalização, Bolsonaro chegou a afirmar, referindo-se aos adversários petistas e esquerdistas em geral: Esses marginais vermelhos serão banidos de nossa pátria (…) Essa pátria é nossa. Não é dessa gangue que tem uma bandeira vermelha e tem a cabeça lavada. Ouviu, como resposta, de Fernando Haddad, a assertiva: Não é um candidato a presidente, é um chefe de milícia; os seus filhos são milicianos, são bandidos, é gente de quinta categoria. Bolsonaro acabou sendo vítima da própria onda de violência a que aludiu, ao ser esfaqueado por um militante do PSOL, Adélio Bispo de Oliveira, quando participava de um evento eleitoral em Juiz de Fora, Minas Gerais. O atentado ocorreu a seis de setembro, faltando um mês para o primeiro turno. Adélio, um ex-garçom, ao que parece, é um desequilibrado que agiu sozinho, não por influência política-partidária.
Em quase trinta anos de legislatura no Congresso, Bolsonaro aprovou apenas dois projetos. Tido como um dos expoentes do chamado baixo-clero parlamentar, sempre foi feroz na crítica à esquerda em geral e ao PT em particular. Para se apresentar como o candidato antissistema que não recairia em alianças fisiológicas, ele elevou o tom da polarização. Entre os alvos de suas diatribes, como notou a revista Veja, estavam a imprensa, ONGs, ambientalistas, feministas e toda sorte de defensores de minorias. Convalescendo de cirurgias decorrentes da facada que sofreu, Bolsonaro fez a maior parte da campanha em transmissões pelas redes sociais, consagrando um estilo cuidadosamente amador em suas lives em vídeo a bandeira brasileira torta na parede tornou-se um símbolo. Aclamado pelos partidários mais fanáticos como O Mito, Bolsonaro derrotou Fernando Haddad no segundo turno obtendo mais de 55,13% das intenções de votos, o correspondente a mais de 57,8 milhões de sufrágios válidos. Haddad encerrou a disputa com 44,87% da preferência do eleitorado brasileiro cerca de 47 milhões de votos.
Os adversários de Bolsonaro, em especial os petistas, esforçaram-se durante toda a campanha para massificar o slogan #ELENÃO, uma forma subliminar de descartar Jair Messias como alternativa na disputa. Não faltou, também, a orquestração sobre falta de propostas concretas, desconhecimento da realidade brasileira e outros fatores incidentes de forma negativa sobre a personalidade de Bolsonaro. A narrativa das eleições, entretanto, já estava cristalizada na cabeça do eleitor e Bolsonaro saiu da eleição com o troféu. Prometeu que não disputará a reeleição, o que é um dado a ser conferido lá na frente.
Nonato Guedes