Com todas as atenções focadas na figura do novo presidente Jair Bolsonaro e sua equipe de governo, o ainda presidente Michel Temer deixou o gabinete palaciano em Brasília formulando uma declaração enigmática ao jornal O Estado de S. Paulo a propósito do seu futuro político: Vou viver comigo mesmo!. Tido como um dos mais impopulares governantes da história do país, Temer disse não acreditar que o presidente Jair Bolsonaro possa destruir reformas que, de algum modo, foram implementadas na sua gestão deflagrada em 2016 com o impeachment de Dilma Rousseff, do PT, da qual era vice-presidente.
O indulto concedendo o perdão a presos comuns, mas não a corruptos, foi o caminho escolhido por Michel Temer (MDB) para tentar marcar positivamente o derradeiro gesto do seu mandato. Pela versão final do decreto, firmado após intensas discussões e controvérsias, ficaram excluídos do indulto os condenados por corrupção, crimes contra a administração pública e de violência sexual contra crianças. Em princípio, Temer não queria editar indulto algum em 2018 sob a justificativa de que, antes, o Supremo Tribunal Federal deveria julgar a constitucionalidade do indulto do ano anterior, contestado pela Procuradoria Geral da República. O julgamento da ação foi suspenso em novembro após pedido de vista dos ministros Dias Toffoli e Luiz Fux, ainda que até aquela data a maioria dos magistrados já tivesse votado favoravelmente à concessão do benefício, como lembra a revista Veja.
O presidente que descerá a rampa do Palácio do Planalto é investigado em cinco inquéritos e alvo de três denúncias. Chegou a ser acusado de legislar em causa própria ao lançar mão de medidas para mitigar a pena dos inquilinos da Operação Lava-Jato, mas no último capítulo de seu governo decidiu editar o indulto que exclui corruptos como forma que ele encontrou para terminar um mandato marcado por denúncias de corrupção com uma nota de louvor. Quanto ao futuro político de Temer, não agrega muitas apostas. As versões nos meios políticos são de que o presidente jogou fora suas possibilidades ao não se candidatar nas eleições de outubro pelo MDB, que lançou o ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Insinuou-se que Temer estaria cobiçando uma embaixada do Brasil de preferência, em Portugal, onde poderia lecionar, também, na Universidade de Coimbra. Nada disso está confirmado da parte do futuro presidente Jair Bolsonaro. Mas o caminho da Justiça está invariavelmente desenhado na trajetória de Temer para se defender das acusações que lhe são imputadas.
Nonato Guedes