Há uma grande expectativa sobre o documento histórico que será convertido em livro e documentário intitulado O Brasil de Temer, no qual o presidente mais impopular da história do Brasil dá sua versão sobre um dos momentos mais críticos do governo que pilotou a quarta-feira em que se tornou pública a história de que os donos da JBS haviam fechado acordo de delação premiada e acusado Temer de se beneficiar pessoalmente de um gigantesco esquema de corrupção. No relato, o ex-presidente apresenta-se como vítima de uma caçada judicial e de uma conspiração cujo objetivo seria destituí-lo do poder e encarcerá-lo. Entre julho e novembro do ano passado, ele gravou dezesseis horas de depoimentos para o marqueteiro Elsinho Mouco e o escritor e filósofo Denis Lerrer Rosenfield, durante dez encontros realizados nas bibliotecas dos palácios da Alvorada e do Jaburu.
A revista Veja, numa das edições de dezembro, antecipou parte dos depoimentos, principalmente contida no capítulo A trama. Temer contou que estava reunido com governadores debatendo uma forma de renegociar dívidas dos Estados com a União quando foi informado por um assessor sobre a bomba que explodira em Brasília. Às 19h30 de 17 de maio de 2017, o colunista Lauro Jardim publicou no site do jornal O Globo a informação de que o empresário Joesley Batista entregara ao Ministério Público uma conversa gravada entre ele e Temer. Nela, o empresário dizia que estava dando dinheiro para comprar o silêncio do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Temer respondia: Tem que manter isso, viu?. O diálogo aparentava uma tentativa do presidente de obstruir as investigações, o que poderia levar à cassação de seu mandato. Temer não poupa Rodrigo Janot, ex-procurador da República, que fechou o acordo de delação dos donos da JBS e teria vazado informações comprometedoras para o jornal O Globo.
Michel Temer detalha, no depoimento, o enredo do que seria a conspiração para derrubá-lo do cargo. Numa reunião com seis assessores para avaliar cenários, o ex-presidente ouviu de um deles um conselho claro e inequívoco: deveria convocar uma Constituinte e antecipar a eleição de outubro de 2018 para dezembro de 2017. Só assim evitaria a humilhação de ser defenestrado do palácio. Mas ele garante que recusou de bate-pronto a alternativa. Se não resistisse, eu me auto declararia culpado, justifica. Aos entrevistadores, Temer contou que começou a sair das cordas quando o áudio da conversa gravada por Joesley foi finalmente divulgado. O empresário não dissera claramente que estava comprando o silêncio de Cunha, mas limitou-se a falar que estava de bem com o ex-deputado, conforme Temer.
Temer adora repetir a tese de Denis Rosenfield segundo a qual ele (Temer) é acusado de cometer o crime de amizade e não de integrar quadrilha, como denunciou o Ministério Público. Na prática, desde que passou a faixa a Jair Bolsonaro, Temer perdeu prerrogativa de imunidade e tem a Justiça nos seus calcanhares. Por três vezes ele foi acusado da prática de crime de corrupção, pelo recebimento de propinas da Odebrecht. Em um quarto processo, consta que a Polícia Federal concluiu investigação apontando Temer como integrante e beneficiário de um esquema de pagamento de propinas no Porto de Santos, litoral paulista, desde a década de 90. Resta esperar para ver como o ex-presidente se safará das acusações.
Nonato Guedes