Ainda tem muito chão pela frente, é claro interregno em que pode acontecer tudo, inclusive nada mas a dados de hoje a definição de candidatura à sua sucessão é um desafio para o prefeito reeleito Luciano Cartaxo (PV) e, por extensão, para os aliados políticos que compõem a sua base de sustentação. Cartaxo tem procurado frear movimentos que tenham como pano de fundo o desenho sucessório, mas no íntimo sabe que não poderá conter por muito tempo as articulações deflagradas. A cautela do gestor tem uma justificativa plausível: não há um nome definido no staff com condições de viabilidade eleitoral, sobretudo com condições de enfrentar o esquema do governador João Azevedo (PSB), que guarda como trunfo maior o ex-governador e ex-prefeito da Capital por duas vezes Ricardo Coutinho.
Falou-se em Diego Tavares, de volta à equipe administrativa pessoense, como alternativa a ser trabalhada para galvanizar preferências do eleitor em 2020. Expoentes do próprio círculo de Luciano admitem, em off, todavia, que Tavares ainda não é o nome talhado para empolgar. Uma busca rápida junto a outros nomes do secretariado do prefeito não identifica, ainda, opções válidas. Para completar o cenário pouco otimista, a derrota do esquema na eleição ao governo do Estado em 2018, quando Lucélio, irmão gêmeo de Luciano, foi ungido postulante, causou uma desmotivação que ainda hoje perdura, o que tem reflexo psicológico colateral no ânimo de militantes e simpatizantes para embates futuros.
Há quem pergunte, na órbita do clã Cartaxo, se não seria o caso de apostar em um nome mais viável, originário até mesmo de agremiação política distinta, que nessa hipótese seria adotado com honras diante do vaticínio de garantir perspectivas de vitória, o que, na conjuntura presente, não parece possível. Quando há impasses assim, eles decorrem da acomodação de esquemas políticos em preparar quadros com densa potencialidade eleitoral. Ninguém vai confessar, mas ainda é muito forte no imaginário de certos caciques políticos a ideia de que o poderio do esquema ou da máquina tem influência preponderante. Sabe-se que em 2018 isto não funcionou havia duas máquinas mobilizadas, as das prefeituras de João Pessoa e Campina Grande. E deu no que deu, a vitória de João Azevedo em primeiro turno, apoiado por outra máquina mais convincente, a do governo do Estado, com Ricardo Coutinho no papel de regente. A influência, no caso, é subliminar, tem efeito colateral, já que a legislação brasileira é cada vez mais rigorosa com a utilização de máquinas administrativas para desequilibrar páreos eleitorais.
Já tivemos casos na Paraíba em que nomes recrutados de outros partidos, especialmente no bojo de dissidências, foram fundamentais para vitórias. Tal se deu, sobretudo, com o PMDB, que gastou esse artifício em profusão para conquistar o poder, acolhendo Antônio Mariz em 82 (sem êxito) e Tarcísio Burity em 86 (com êxito). O problema é que o prefeito Luciano Cartaxo ainda parece refém de pressões e concepções familiares, domésticas, com isto perdendo a noção do conjunto e gerando insegurança e desmotivação. É um tema para ser refletido, num Estado onde se sai de um pleito e se mergulha no outro de ponta-cabeça sem nem atentar para o que está dizendo a voz rouca das ruas.
Nonato Guedes