O deputado federal Marcondes Gadelha (PSC) está prestes a encerrar sua militância na política, atividade sedutora que o roubou da medicina e na qual debutou na década de 60, mais precisamente em 1968, quando disputou as eleições para prefeito de Sousa, no sertão paraibano, saindo derrotado. A disputa marcou o uso intensivo do rádio pela primeira vez na região, despertando interesse muito grande nas cidades das circunvizinhanças. Finda aquela campanha, a de deputado estava praticamente pronta e já na eleição de 1970 Marcondes foi o deputado federal mais votado do MDB da Paraíba.
Filho do usineiro e coronel José de Paiva Gadelha, que constituiu família política e comandou embates memoráveis em Sousa contra grupos adversários, Marcondes foi eleito senador em 1982, derrotando o ex-governador Pedro Gondim. Disputou o governo do Estado em 1986, perdendo para Tarcísio Burity, e concorreu novamente ao Senado em 1990, desta feita sendo derrotado por Antônio Mariz, de quem foi adversário por muito tempo na política sousense. Os dois se conciliaram em 95, quando Mariz assumiu o governo e convidou Marcondes para ser seu secretário de Agricultura. Mariz morreu naquele mesmo ano vítima de câncer no cólon. Atualmente, Gadelha exerce o mandato na vaga de Rômulo Gouveia, que faleceu no ano passado. Em 2018, Marcondes optou por não disputar a reeleição, abrindo espaço para que o filho Leonardo tentasse eleger-se, o que não aconteceu.
Um fato de repercussão na carreira de Marcondes foi a sua migração do P(MDB) para o PDS-PFL, como forma de sobreviver politicamente, já que Mariz, o adversário, havia sido acolhido pelo PMDB e ungido como candidato a governador em 82, perdendo para Wilson Braga por 151 mil votos. A filiação de Marcondes ao PFL foi abonada em praça pública, em Sousa, pelo então ministro da Justiça Ibrahim Abi-Ackel, depois que Marcondes foi recebido em audiência em Brasília pelo presidente João Baptista de Figueiredo, o último do rodízio de generais instaurado em 1964 com a deposição do governo de João Goulart. Figueiredo acenava com abertura política, no bojo da qual estava inserida a anistia a adversários do regime militar, e estendeu a mão buscando parceiros para a conciliação nacional. Gadelha foi um dos primeiros a apertar a mão do presidente. Já ia longe o tempo em que, como expoente do grupo Autêntico do MDB, Marcondes vergastava a ditadura militar em pronunciamentos que poderiam ter lhe custado o mandato.
A façanha maior que Marcondes protagonizou foi aceitar ser candidato a vice-presidente da República nas eleições de 1989, na chapa encabeçada pelo apresentador de televisão e dono do SBT, Sílvio Santos. A chapa teve seu registro cassado pelo TSE por alegadas irregularidades na constituição do PMB, um partido de aluguel no qual Sílvio Santos se inscrevera. Gadelha fez residência médica em Brasília e cogitava especializar-se em cirurgia cardiovascular, mas, a pedido do seu pai, ficou em Sousa para participar dos acirrados embates políticos. Orador fluente, que empolgava as massas nos primórdios da sua trajetória, ele foi um dos principais paladinos da bandeira da transposição de águas do rio São Francisco, chegando a ser hostilizado em estados do próprio Nordeste quando participou de debates públicos sobre o tema. Tentou ingressar no PT, mas foi vetado por xiitas do partido na Paraíba, que o chamavam de burguês e diziam que ele nunca vestira um macacão de operário. No currículo de Marcondes consta uma saudação em grande estilo feita ao estadista François Miterrand, da França. Como candidato a governador, empalmou um conceito de modernização que não foi assimilado pelo eleitor, embora o tempo demonstrasse que Marcondes estava a anos-luz na avaliação da conjuntura política. É um quadro que deixará lacuna irreversível na representação política paraibana no Congresso Nacional.
Nonato Guedes