O senador Cássio Cunha Lima tem apenas dez dias de mandato no Congresso Nacional e seu futuro político é uma incógnita nem ele dá pistas nem seus correligionários ou aliados aventuram-se a fazer prognósticos. Pela lógica natural dos acontecimentos políticos, Cunha Lima poderia sair candidato a prefeito de Campina Grande além de ser a próxima disputa à vista no calendário, em que ele possa enquadrar-se, o líder político já ocupou por três vezes o cargo, deixando marcas que o consagraram em disputas majoritárias estaduais como a de governador e a de senador.
Cássio, na atualidade, ainda lambe as feridas da surpreendente derrota alcançada na tentativa de se reeleger em outubro do ano passado. Ele começou liderando pesquisas de intenção de voto ao Senado, manteve-se num patamar razoável por certo tempo, até que a campanha embicou, sofreu um giro espetacular e Cássio chegou ao fim da disputa com a língua de fora e amargando um quarto lugar nas preferências, abaixo de Veneziano Vital e Daniella Ribeiro, eleitos, e até do deputado federal Luiz Couto, do PT, que teve a injeção do esquema do ex-governador Ricardo Coutinho para tentar se habilitar a uma das duas vagas em disputa.
Para muitos, o episódio da derrota de Cássio em 2018 ainda é intrigante, até mesmo inexplicável. Mas é claro que há explicações plausíveis para os resultados, favoráveis ou desfavoráveis, dos embates políticos, envolvendo quem quer que seja. Num primeiro momento, quando indagado por este repórter sobre fatores preponderantes no revés enfrentado, Cássio fixou-se no que chamou de tsunami político que varreu o país como um todo, projetando a ascensão de outsiders no panorama, a partir da ascensão fulminante de Jair Bolsonaro, um expoente do baixo-clero na Câmara dos Deputados, que logrou eleger-se presidente da República, explorando temas cruciais para setores médios do eleitorado, como a segurança pública, e derrotando o Partido dos Trabalhadores, o mais desgastado de todos os grêmios partidários na última campanha.
Há quem pondere, também, que a dedicação quase integral de Cássio aos temas nacionais, inclusive ao impeachment de Dilma Rousseff nessa legislatura, o impediu de vir à Paraíba com mais constância, o que o teria distanciado das bases cativas e impedido de conquistar novos redutos que possibilitem a expansão do seu espólio eleitoral. Não teria havido tempo útil, também, para uma maior integração com a deputada estadual Daniella Ribeiro, do PP, com quem Cássio fez dobradinha formal, na base da coligação. Ela logrou ser eleita a primeira senadora da história do Estado, mas na nova legislatura dividirá espaços com Veneziano Vital do Rêgo, que teve todo empenho do ex-governador Ricardo Coutinho para sair vitorioso e derrotar Cássio.
A derrota de Cássio tem sido lamentada em meios políticos gerais tendo em vista a contribuição valiosa que ele vinha oferecendo ao debate político-institucional do país. O filho do poeta Ronaldo estava, por assim dizer, no seu melhor momento, na plenitude da maturidade política, posicionando-se de forma clara em questões controversas como a do impeachment, sem dar margem a explorações em torno das posturas. Teria Cássio ficado na contramão da História nessa eleição? Difícil supor essa tese se, afinal de contas, a maioria do eleitorado optou por Bolsonaro a Haddad, que foi o poste do ex-presidente Lula na última eleição. Teria havido fadiga de material tendo como corolário desgaste da imagem de Cássio por tanto tempo de militância política? Seja como for, foi a segunda derrota majoritária consecutiva que ele enfrentou (a primeira, em 2014, para o governo, justamente para Ricardo Coutinho). A engenharia política recomenda que ele se permita o recolhimento político para reflexões, só aí decidindo a continuidade, ou não, na atividade política.
Nonato Guedes