O escritor paraibano Francisco Sales Cartaxo Rolim, radicado no Recife, autor, entre outros livros, de Guerra ao fanatismo a diocese de Cajazeiras no cerco ao Padre Cícero, declarou ao site Os Guedes que se a Igreja tivesse extinguido o celibato, boa parte dos escândalos sexuais que têm sido divulgados em vários países não teria subsistido. O comentário foi a propósito da reportagem do Fantástico, da Rede Globo de Televisão, no último domingo, informando que a Arquidiocese da Paraíba foi condenada pela Justiça do Trabalho com vistas a pagar indenizações milionárias a vítimas de pedofilia cometida por sacerdotes nos últimos anos. O assunto teve ampla repercussão nacional e levou a Arquidiocese a divulgar nota oficial apontando impropriedades nas versões divulgadas pelo Procurador do Trabalho, Eduardo Varandas, que também teria violado o segredo judicial em torno do inquérito em andamento.
Francisco Sales Cartaxo Rolim, que foi secretário de Planejamento da Paraíba no governo do cajazeirense Ivan Bichara Sobreira, ressalta que, lá atrás, muitos padres decidiram por conta própria conciliar impulso sexual com obrigações religiosas. Um dos exemplos mais notáveis no Sertão da Paraíba, assevera ele, foi o do padre José Antônio Marques da Silva Guimarães, vigário da cidade de Sousa em quase metade do século XIX. Do contrário, a Paraíba não teria sido governada por João Agripino e por Antônio Mariz, nem o atual deputado Rodrigo Maia estaria lutando para se reeleger presidente da Câmara Federal, todos descendentes do vigário, deputado e excelente reprodutor padre José Antônio Marques. No livro Guerra ao Fanatismo, Frassalles cita o depoimento de um memorialista, Emmanoel Rocha Carvalho, biógrafo do vigário sousense, afiançando:
– Se não cumpria fielmente os preceitos da Igreja Católica no que diz respeito ao celibato, padre José Antônio Marques cumpria exemplarmente os demais compromissos, com aguçada inteligência, coragem inabalável e elevada capacidade de trabalho, tudo empregado na defesa do seu extenso domínio paroquial. Por isso, era respeitado, ouvido e clamado como homem desassombrado, que chegava a levar a mulher e os filhos para as grandes cerimônias religiosas. Diz Sales Cartaxo que nessa linha de sinceridade, coragem e responsabilidade patriarcal, o padre José Antônio deixou um manuscrito, datado de 26 de agosto de 1861, quando tinha 55 anos, intitulado Lembranças do Natalício de Meus Filhos, no qual estão listados os nomes de seus quinze filhos, com data e local de nascimento, bem assim como o nome da parceira com quem os gerou. O padre José Antônio exerceu intensa atividade política como um dos chefes sertanejos do Partido Liberal, do qual foi o fundador em Sousa e outras regiões.
O escritor informa, ainda, que o sacerdote foi deputado provincial em quatro legislaturas, presidente da Assembleia e vice-presidente da Província. Seus principais herdeiros políticos foram um genro, o médico Fausto Nominando Meira de Vasconcelos, que exerceu mandato parlamentar no Império e o filho Antônio Marques da Silva Mariz, também médico, conhecido como doutor Silva Mariz, que se tornou chefe político de Sousa, de expressão estadual na Primeira República, tendo sido deputado estadual constituinte de 1891 e deputado federal por três mandatos. Ademais, foi prefeito de Sousa, inclusive, na época da criação da diocese de Cajazeiras. Seu filho, o advogado José Marques da Silva Mariz, o substituiu no comando da política sousense.
Nonato Guedes