Cantei a pedra num texto publicado neste site Os Guedes: ao manter praticamente quase todo o secretariado remanescente de Ricardo Coutinho, o governador João Azevedo corria o risco de ser marionete no Palácio da Redenção e de assistir ao espetáculo de auxiliares da atual gestão despacharem com o antecessor. Uma nota publicada hoje em coluna no Correio da Paraíba, assinada por Nice Almeida, revela o seguinte: O governador João Azevedo estaria olhando torto para alguns secretários remanescentes do governo Ricardo. É que eles estariam participando de reuniões e correndo para o escritório de Ricardo para apresentar o relatório.
No discurso de posse no Teatro Pedra do Reino, o governador João Azevedo, como que fazendo um exercício de premonição, alertou vivandeiras da cizânia de que estaria vacinado contra intrigas em relação ao antecessor, garantindo com todas as letras que não prosperariam manobras destinadas a incompatibilizá-lo com quem foi decisivo para a sua vitória em alto estilo, no primeiro turno, ao governo da Paraíba. A impressão que ficou foi a de que o recado subliminar fora endereçado a adversários políticos que porventura tentassem agir como pescadores de águas turvas na relação dele com o antecessor. Mas o alerta prestou-se, também, aos que estavam se empossando com ele.
Recordo, com nitidez, a insistência do novo governador em repisar que poderia haver e haveria diferença de estilo ou de concepção em relação ao modus operandi, na analogia com os oito anos de governo empalmados por Ricardo Coutinho. Mas novamente foi categórico sublinhando que isso não significava movimento de ruptura e, sim, projeção de personalidades individuais, já que, embora comunguem dos mesmos ideais ou propósitos no que se refere à Paraíba, Azevedo e Ricardo não são siameses. Como se costuma dizer, a temperatura de cada um não ferve à mesma pressão. A nota assinada por Nice Almeida no Correio sobre despachos paralelos é recheada pela observação dela: Eu, sinceramente, não acredito nisso. Acho que não precisa de segredos entre João e Ricardo e acho também que o governador tem dado consentimento para os secretários apresentarem ao amigo consultor as decisões tomadas.
Para além do achismo da repórter-colunista, há um fato concreto a cumplicidade de secretários remanescentes, que é maior em relação a Ricardo do que em relação a João Azevedo. Nada de estranho nisso afinal, alguns deles foram partícipes ativos da construção de um projeto que germinou em 2010 sob as bênçãos dos girassóis e tendo como timoneiro o mago das palavras que é Ricardo Coutinho. O que é preciso ter em conta, contudo, é que gratidão é uma coisa, autonomia é outra coisa. O governador de plantão é João, que responde, até judicialmente, por atos cometidos na administração estadual. É curial que ele preserve ao máximo a sua autoridade nas decisões, inclusive em uma ou outra que possa desagradar ao ex-governador Ricardo Coutinho. Mas se está havendo romaria aos pagos de Ricardo para dirimir pendências afetas ao governo Azevedo, alguma coisa está errada. E se o ruído não for debelado o quanto antes, os desdobramentos serão inevitáveis no que toca a fissuras até na relação pessoal. Quem avisa, amigo é!
Nonato Guedes