Berço de figuras ilustres que se projetaram, especialmente, na política, como o falecido ex-governador Antônio Mariz e o atual deputado federal Marcondes Gadelha, a cidade de Sousa, no Sertão paraibano, pela primeira vez desde a década de 1960 ficará sem qualquer representação na Assembleia Legislativa e na Câmara dos Deputados. O fenômeno, que tem sido lamentado pelos próprios políticos sousenses e por segmentos da sociedade local, é abordado, hoje, pela colunista Sony Lacerda, no jornal Correio da Paraíba, lembrando que houve época em que Sousa teve dois deputados federais, que nutriam divergências partidárias e ideológicas mas uniam-se na defesa dos pleitos da cidade.
Na atual conjuntura, dois políticos de expressão com base em Sousa estão em fim de mandato Marcondes Gadelha (PSC), federal, que assumiu com a morte de Rômulo Gouveia e não teve uma atuação brilhante, à altura do desempenho em outros períodos, e Lindolfo Pires Neto, que não conseguiu se reeleger para a Assembleia Legislativa. Caberá a um jovem ex-vereador eleito por João Pessoa, Felipe Leitão, filho de Ives Mikika Leitão, o papel de representar Sousa como deputado estadual eleito, dadas as suas raízes naquela cidade. Contrariando prognósticos aleatórios, Felipe Leitão elegeu-se deputado estadual com quase 28 mil votos. A longevidade de líderes como Marcondes Gadelha no cenário político (atua desde 1968) e divergências políticas dentro de clãs familiares na cidade de Sousa contribuíram para a orfandade que vai se registrar a partir da nova legislatura.
Sony Lacerda informa que Felipe Leitão se considera preparado para representar a Paraíba como um todo. No que diz respeito às suas ligações com Sousa, assume que todo o seu cordão umbilical é daquela cidade, embora ele tenha nascido em João Pessoa. Felipe é neto de um ex-deputado estadual sertanejo Eilzo Matos, que também foi secretário de Estado, sobrinho do ex-deputado federal e ex-secretário de Estado Inaldo Rocha Leitão e filho do empresário Mikika, que também militou na política e chegou a assumir por um período cadeira na Assembleia Legislativa. Da parte do clã Gadelha, Marcondes deliberou que, na última eleição, deveria passar adiante o bastão político, e foi assim que seu filho, Leonardo, ex-presidente nacional do INSS e que já havia ocupado mandato de deputado federal, candidatou-se à Câmara. Teve votação expressiva mas não suficiente para dar-lhe uma vaga como titular.
Os habitantes de Sousa confiam em que políticos de cidades próximas à terra de Bento Freire encampem reivindicações de interesse do município, inclusive, fortalecendo ações dos governos estadual e municipal. Marcondes Gadelha chegou a ser eleito senador em 1982, da mesma forma como Antônio Mariz saiu vitorioso em 1990 num confronto com o próprio Gadelha. Candidato ao governo do Estado em 1986, Marcondes foi derrotado por Tarcísio Burity, que tinha o apoio de Mariz. Em 1994, Mariz concorreu pela terceira vez ao governo do Estado, derrotando a então deputada federal Lúcia Braga mas se demorou pouco, uma vez que enfrentou um câncer de cólon que provocou sua morte no primeiro ano de mandato, tendo o governo sido assumido pelo vice José Maranhão. Em 1978, Mariz perdeu a eleição indireta ao governo para Tarcísio Burity e em 1982 foi derrotado nas urnas por Wilson Braga. Manteve-se como político destacado, quer na Câmara Federal, quer no Senado, tendo sido relator do processo que culminou com o impeachment do presidente Fernando Collor de Mello em 1992.
Nonato Guedes