Dono de um currículo invejável e expoente de uma cruzada meritória contra a corrupção e seus subprodutos no Brasil, o magistrado Sergio Moro tornou-se um ministro competente no governo errado. Antes que a gestão do presidente Jair Bolsonaro completasse o primeiro mês, já está às voltas com casos de corrupção doméstica, atingindo o coração do núcleo familiar, a partir do envolvimento do filho Flávio com depósitos mal-esclarecidos e vinculações com milicianos que podem ter tido conexão com o crime que vitimou a vereadora Marielle Franco, do Rio de Janeiro, e que teve repercussão internacional.
A agenda do presidente Bolsonaro nos últimos dias não lhe tem dado satisfação ou alívio. Além do fiasco no pronunciamento em Davos, quando praticamente nada disse de novo ou de interessante para a população brasileira e para o mundo, o presidente brasileiro ficou isolado entre outros chefes de Estado e teve a persegui-lo a onda de denúncias, em cascata, contra o filho, levando-o a declarações dúbias aos jornalistas, ora atribuindo a Flávio o dever de assumir a responsabilidade pelos seus atos, ora insinuando que os opositores estão tentando tirar proveito do caso para atingir o seu governo e desgastá-lo perante a comunidade internacional. O humor de Bolsonaro azedou ao ponto de motivá-lo a descontar seus tropeços na imprensa, pela qual, diga-se de passagem, nunca teve maior apreço, exceto aqueles nichos que se engajaram por ingenuidade ou esperteza na campanha do capitão reformado.
Ficou evidente, nos gestos e nas palavras de Bolsonaro em Davos, na Suíça, a sua orquestração para escudar-se no ministro da Justiça, Sergio Moro, como fiador da moralidade do seu governo por ter sido ele o magistrado que conseguiu pôr na cadeia figurões como um ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e políticos de expressão na mídia. Ocorre que Moro acabou se desgastando ao embarcar na contra-ofensiva do governo, mostrando-se lacônico demais na oferta de informações sobre providências que seriam tomadas em casos explícitos de corrupção como o que envolve o parlamentar Flávio Bolsonaro. O constrangimento de Moro é visível, denotando que ele está pagando um alto preço pela vaidade de ser ministro da Justiça, talvez como artifício para se credenciar a uma indicação para ministro do Supremo Tribunal Federal, o que simbolizaria o ápice da sua carreira no Judiciário.
O governo Moro ficou praticamente paralisado diante da surpreendente gravidade de denúncias que têm pipocado na imprensa. Caracterizando a existência de ilhas de impunidade dentro de uma gestão que se instalou debaixo do compromisso de ser enérgica contra os malfeitos ou as maracutaias, sinônimos de atos lesivos praticados à tripa forra na Era do Partido dos Trabalhadores, que no dizer de Marco Antonio Villa, constituiu a década perdida, nos interstícios dos governos do próprio Lula, o mito maior, e da primeira mulher presidente da República, Dilma Rousseff, também pioneira como presidente-mulher que sofreu um processo de impeachment, enquanto Lula amarga a prisão em Curitiba, nas ilhargas da Polícia Federal, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Desde que perdeu a eleição com o professor Fernando Haddad, o Partido dos Trabalhadores tem procurado fomentar a revanche a qualquer preço. No plano político-congressual já ficou definido que o partido será obstáculo a matérias oriundas do governo Bolsonaro, mesmo aquelas que implicam em reformas plausíveis, necessárias e reivindicadas pela sociedade brasileira. Agora, os petistas fartam-se do escândalo envolvendo o filho do presidente para tirar proveito político-eleitoral e incentivar um clima psicológico que dissemine a promoção do impeachment de Bolsonaro. Para tanto, os petistas articulam-se em frentes políticas atuantes no exterior, dentro da tática de ampliar a visibilidade das acusações contra o governo recém-instalado. Bolsonaro está devendo ao povo brasileiro mais do que explicações. Está devendo atitudes concretas, corajosas, que cortem na carne, se desejar salvar o mínimo de credibilidade da sua gestão e ter tranquilidade para viabilizar as mudanças que prometeu à Nação.
Nonato Guedes