A decisão do governador João Azevedo (PSB) de decretar intervenção em hospitais gerenciados por Organizações Sociais (OS), entre elas a Cruz Vermelha, que desde o ano passado tem sido foco de investigações em todo o país, levou o deputado Raniery Paulino, do MDB, a cobrar explicações mais consistentes, alegando que o decreto 38.952 não especifica quais as irregularidades encontradas. Já o deputado estadual diplomado Wallber Virgolino, do Patriota, manifestou descrença quanto aos efeitos da intervenção decretada por Azevedo em instituições como o hospital de Trauma e Emergência Senador Humberto Lucena em João Pessoa. Para mim, isso vai acabar em pizza. Quem já viu raposa investigar raposa? O próprio governo está mandando investigar o governo. Quem tem que tomar providências é o Ministério Público Federal, junto com órgãos fiscalizadores, observou.
Raniery não descartou a possibilidade de acionar o Ministério Público caso não obtenha informações solicitadas ao governo. Já o governador João Azevedo, em entrevista, ontem, durante solenidade no Tribunal de Contas, defendeu o modelo de gestão dos hospitais públicos do Estado, mas não detalhou se foram encontrados indícios materiais para justificar a intervenção nos hospitais que têm essa gerência. É importante entender que o modelo de gestão hospitalar através de OS não está em discussão. É um modelo extremamente acertado e fez com que o hospital de Trauma fosse o único do Nordeste com acreditação em nível II. A intervenção na Paraíba, de acordo com Azevedo, foi motivada por ações em âmbito nacional. Em função de uma intervenção que houve na Cruz Vermelha nacional e do Rio Grande do Sul, com a qual nós temos contrato, evidentemente nos preocupa. O governo do Estado não teve nenhum tipo de notificação de quem quer que fosse, de nenhum órgão. Entretanto, pelo fato de ter sido feita essa intervenção nacional e do Rio Grande do Sul, com o qual temos contrato, temos que ter cuidado maior com a preservação da prestação do serviço. Por isso, colocamos um interventor que vai acompanhar toda a execução dos trabalhos, comentou Azevedo.
O coronel bombeiro Lucas Severiano de Lima Medeiros e o procurador do Estado Lúcio Landim Batista da Costa foram os interventores designados para a ação, que inicialmente vai durar 90 dias, mas pode ser prorrogada por mais 90 e que atinge, também, o hospital metropolitano Dom José Maria Pires, em Santa Rita. O prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV), afirmou que o decreto de Azevedo contraria o que sempre defendeu o ex-governador Ricardo Coutinho, em cuja gestão foram contratadas organizações sociais para gerir a saúde. Parece que o governador atual botou a bomba no colo do ex-governador Ricardo Coutinho. Quando ele assumiu, disse que tudo estava limpo, organizado e que não havia necessidade de intervenção por parte do governo do Estado nos trabalhos da Cruz Vermelha, questionou Cartaxo. Já Lucélio Cartaxo, que foi principal concorrente de João Azevedo na eleição ao governo, se posicionou pelas redes sociais sobre a intervenção. Durante a campanha lembrou Lucélio o então candidato João Azevedo defendia fervorosamente o modelo de gestão da Cruz Vermelha, que chamava de eficiente e econômico.
Apurou-se que o Tribunal de Contas do Estado já havia alertado o governo sobre supostas irregularidades detectadas no funcionamento de hospitais geridos pela Cruz Vermelha Brasileira, filial do Rio Grande do Sul. Em dezembro de 2018, os Ministérios Públicos do Rio de Janeiro, da Paraíba e de Goiás desencadearam a operação Calvário, esforço investigativo no qual foi possível identificar inúmeras condutas delituosas praticadas no âmbito de organização criminosa infiltrada na Cruz Vermelha Brasileira. Conforme as investigações, a organização criminosa infiltrada na C VB é comandada por um ex-dirigente de uma empresa, Daniel Gomes da Silva, da Toesa Service S/A, que já possui anterior condenação criminal em primeira instância pelo crime de peculato, em razão de sua empresa ter sido contratada por valores superfaturados para o serviço de manutenção de ambulâncias à Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro. Operando sob a denominação e o CNPJ dessas entidades não-governamentais, a organização criminosa comandada pelo investigado teve acesso a mais de R$ 1,1 bilhão em recursos públicos para a gestão de unidades de saúde em outros Estados da Federação.