No próximo dia 10 de fevereiro o Partido dos Trabalhadores completará 39 anos de fundação amargando uma grande baixa, já que seu maior líder, Luiz Inácio Lula da Silva, está preso há quase um ano, recolhido à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, sob acusação de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ele foi condenado a doze anos e um mês de prisão e no ano passado tentou concorrer à presidência da República mas teve o registro vetado pelo Tribunal Superior Eleitoral, alegando estar Lula alcançado pela Lei da Ficha Limpa, que ele mesmo sancionou quando era presidente. Vários outros expoentes nacionais do partido estão na cadeia como alvos da Operação Lava-Jato desencadeada pela Polícia Federal com o apoio do Ministério Público, entre eles o ex-presidente nacional e um dos teóricos do petismo, José Dirceu, e o ex-ministro Antonio Palocci, que, inclusive, incriminou Lula no recebimento de propina numa delação premiada que fez às autoridades.
O candidato substituto de Lula na disputa do ano passado foi o professor Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, que obteve 45 milhões de votos, foi para o segundo turno mas não conseguiu vencer o ex-deputado federal Jair Bolsonaro, do PSL-RJ, que se assumiu como candidato das forças de direita. Bolsonaro tem como ministro da Justiça o ex-juiz Sergio Moro, principal figura da Lava-Jato e o magistrado que condenou Lula à prisão. Haddad teve como vice a deputada estadual Manuela DAvila, do PCdoB do Rio Grande do Sul, que abriu mão de uma candidatura própria a presidente da República para tentar unificar as forças de esquerda. O PT amargou, também, nos últimos anos, o impeachment da presidente Dilma Rousseff em seu segundo mandato e, internamente, um escândalo que feriu de morte a ética da agremiação o chamado mensalão.
Nascido no ABC paulista, o Partido dos Trabalhadores é, hoje, praticamente, um partido nordestino. Foi na região onde nasceu Lula que o PT obteve os melhores resultados na eleição de 2018, governando Estados como o Ceará e o Rio Grande do Norte. A sangria de quadros do partido, em nível nacional, entretanto, foi expressiva, e a grande discussão que se faz hoje é sobre o rumo que o partido vai seguir de agora em diante. O único consenso é o de que, mais do que nunca, o PT deve centrar fogo na preservação da democracia, para conter ameaças oriundas de segmentos conservadores que apoiaram Bolsonaro, um outsider da política que é, ostensivamente, contra a esquerda e o socialismo.
A fundação do PT constituiu uma novidade no cenário político brasileiro e na América Latina e despertou o interesse de forças de esquerda de inúmeros países. O partido foi fundado em 10 de fevereiro de 1980 no Encontro Nacional realizado no Colégio Sion, em São Paulo, em que estiveram presentes cerca de mil pessoas, representantes dos núcleos do Movimento Pró-PT de dezessete Estados. Nesse encontro, foi aprovado o Manifesto do Partido dos Trabalhadores, assinada a ata de fundação e eleita a Comissão Provisória Nacional. No dia 11 de fevereiro de 1982, foi concedido pelo Tribunal Superior Eleitoral o registro provisório do Partido dos Trabalhadores. Os líderes sindicais tiveram participação decisiva na formação do PT, a partir da projeção de figuras como Luiz Inácio Lula da Silva, no comando de greves de metalúrgicos no ABC paulista, desafiando a ditadura militar e instrumentos repressivos como a Lei de Segurança Nacional. O apoio da Igreja e de suas organizações, embora não de modo oficial, manifestou-se desde os primeiros momentos da formação do partido, inclusive na Paraíba, onde o falecido arcebispo dom José Maria Pires externou simpatia pelo PT mesmo observando que, formalmente, a instituição não apoiava nenhum partido político.
Historiadores e outros estudiosos da conjuntura política-institucional brasileira avaliam que o Partido dos Trabalhadores foi fruto da ação política dos chamados novos sujeitos, que entram em cena na política brasileira no período da transição para a democracia, iniciada em meados da década de 1970 no governo de Ernesto Geisel e finalizada em 1989 com a realização da primeira eleição direta depois de três décadas. Fundamental, igualmente, na estruturação do PT, foi a adesão de intelectuais que subscreveram o manifesto de fundação e de artistas como Chico Buarque de Holanda e Caetano Veloso, que se posicionaram contra o impeachment de Dilma Rousseff e com mais vigor contra a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O PT foi o estuário, também, de dissidências de partidos tradicionais como o extinto PMDB e teve seu ápice com a eleição de Lula a presidente em 2002, derrotando o PSDB, e reelegendo-se em 2006. Lula foi, também, o deputado federal mais votado do país para a Assembleia Nacional Constituinte, em 1986, com 650.134 votos. O número de deputados sobe para dezesseis. O partido ganhou a primeira prefeitura de capital, com Maria Luiza Fontenele em Fortaleza, e pela primeira vez também experimenta as dificuldades de estar no governo: Maria Luiza foi expulsa do partido. Em 1988, num desempenho considerado histórico, o PT elegeu 900 vereadores e 38 prefeitos, entre eles a paraibana Luíza Erundina, em São Paulo. Erundina acabou deixando o PT por divergências, integrando hoje os quadros do PSOL.
Nonato Guedes