O primeiro mês da gestão de João Azevedo (PSB) está se concluindo e já houve uma marca registrada: a não-conivência do governo com irregularidades ou malfeitos. Nesse sentido foi emblemática a atitude do chefe do Executivo de decretar intervenção no Hospital de Trauma e Emergência Senador Humberto Lucena, em João Pessoa, a partir da constatação de irregularidades no gerenciamento da unidade por uma organização social, a Cruz Vermelha Brasileira, que é alvo de inquéritos em Porto Alegre e outras capitais. Além de agir de forma profilática, suspendendo qualquer ingerência da referida OS no controle do hospital por 90 dias, prorrogáveis por mais 90, o governador determinou investigação rigorosa sobre a origem de problemas que são remanescentes do final da gestão de Ricardo Coutinho. Tudo isto foi feito com habilidade política e sem estardalhaço, não dando margem a eventuais explorações de revanchismo do novo governador contra o antecessor, até porque o slogan disseminado como propaganda é o da continuidade.
Já havia ficado claro, no discurso de posse, que a continuidade a que se propunha Azevedo em relação às metas deflagradas por Ricardo não o exime de fazer valer um estilo próprio. Desse ponto de vista, Azevedo demonstrou agilidade e eficiência com vistas a estancar sangrias antes que alcançassem proporções maiores, inquinar responsabilidades e punir culpados. João poderia ter levado a coisa em banho-Maria, mas deu publicidade porque queria transparência e porque não deseja encobrir malfeitos detectados. Em nenhum momento ele fez qualquer alusão ao comportamento do ex-governador Ricardo Coutinho. Pelo contrário, defendeu a validade do modelo de gerenciamento da Saúde Pública por OS, desde que atendidas as exigências e necessidades, que é quem tem o controle e também é quem responde perante a opinião pública em situações de descaso, vexame ou atentado ao erário público. Foi zeloso o governador e as providências por ele tomadas, como não poderiam deixar de ser, tiveram repercussão positiva no âmbito da sociedade.
O que tem ficado claro, para os analistas políticos, é que embora não adote ostensivamente uma política de caça às bruxas, muito menos de terra arrasada contra o antecessor que é seu aliado e foi decisivo para sua ascensão ao Palácio da Redenção, o governador João Azevedo tem autoridade própria, procura assenhorear-se do controle da estrutura administrativa em todas as esferas e recorre a soluções típicas da sua concepção, do seu estilo de administrar. Não é cópia da gestão empalmada por Ricardo em dois mandatos, ainda que haja a continuidade de projetos e programas avaliados como essenciais ou indispensáveis, não passíveis, portanto, de interrupções ditadas por mera vaidade. Neste início de governo Azevedo timbra o governo com o sinete do pé no chão, daquele realismo que é imprescindível a gestores de visão que estejam efetivamente preocupados em propor alternativas, não em produzir frases de efeito ou cometer exercícios retóricos.
Contribui, e muito, para esse estilo Azevedo de governar a experiência técnica por ele adquirida, inclusive em gestões pilotadas por Ricardo Coutinho, quer na prefeitura de João Pessoa, quer na administração estadual. Ninguém ignora que no último ano do governo de Ricardo à frente do Palácio da Redenção, Azevedo foi peça-chave pilotando uma secretaria de Infraestrutura que era abrangente, envolvendo recursos hídricos e pavimentação de estradas. Teve papel decisivo, com sua equipe, para retirar o Estado do isolamento geográfico, interligando uma das últimas cidades que parecia condenada a ficar fora do mapa. Nesse desideratum, João cumpriu as diretrizes emanadas de Ricardo, mas os dois tocaram de ouvido porque se identificaram na convergência de afinidades ou de priorização de metas a serem concretizadas.
A auditoria por parte do Tribunal de Contas nos contratos de pessoal e outros atinentes ao funcionamento do Hospital Regional de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena é imperiosa para o conhecimento dos procedimentos administrativos que têm sido implantados desde que a OS responsável pela Cruz Vermelha Brasileira assumiu a responsabilidade de gerenciar a unidade pública de Saúde. Os contratos firmados por Ricardo não são válidos para a vida inteira, muito pelo contrário, têm prazo de validade proporcional ao diagnóstico das necessidades prementes do Estado. Por outro lado, mesmo a gestão por equipes da Cruz Vermelha nunca isentou o governo paraibano de acompanhamento e fiscalização afinal, é ele quem paga pelos serviços contratados. É, sem dúvida, um bom começo o governo de João Azevedo.
Nonato Guedes