Durante quase uma década, Adalberto Fulgêncio foi o presidente do diretório estadual do Partido dos Trabalhadores. Destacou-se como testemunha viva e protagonista de embates decisivos que, historicamente, submeteram o PT local a uma gangorra no poder político-administrativo paraibano. Saiu da legenda professando respeito às lutas do PT e assumiu alinhamento automático com o prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV), que foi um dos companheiros de Fulgêncio nos primórdios do PT e que foi filiado por 19 anos. Esta é a minha decisão mais difícil, prognosticou o advogado e funcionário de carreira da Funasa, em 2015, ao se desligar do partido que ajudou a construir durante 30 anos. Fulgêncio optou por ficar com Cartaxo, que por sua vez desfiliou-se do PT quando eclodiram os escândalos que desgastaram a agremiação. O prefeito passeou pelo PSD que era presidido pelo falecido deputado Rômulo Gouveia e migrou para o PV. Adalberto tem sido uma espécie de coringa na gestão de Luciano, tendo ocupado várias pastas, inclusive, a Saúde.
Adalberto se projetou na eleição interna do PT em 1999, disputando o comando com o deputado Frei Anastácio Ribeiro e com o líder bancário Israel Guedes. Ganhou de Anastácio por 161 votos contra 99. Israel Guedes teve dois votos. Palavras de Adalberto ao comentar aquele resultado: O partido ficou mais democrático. Agora é o partido da tolerância e da generosidade. Temos de deixar claro que não somos os donos da verdade e que não ganhamos sozinhos. Um dos casos mais complicados que Fulgêncio testemunhou foi o episódio do processo disciplinar dentro do PT para expulsar o então deputado Ricardo Coutinho, que teria se desviado de orientações da cúpula sobre alianças políticas-eleitorais. No Encontro estadual de 99, foram fixados parâmetros para as alianças nas eleições de 2000. Foi ampliado o leque de partidos que poderiam se coligar com o PT. No entendimento de Adalberto, isto significava que os diretórios municipais petistas no Estado poderiam abrir diálogo até mesmo com o PFL e PPB ou outros partidos de direita. Também ficou aberto o diálogo com a facção ronaldista do PMDB. Só ficaram de fora do campo de alianças do PT na Paraíba legendas de extrema-esquerda como PCO, PSTU e PCR. Esses partidos têm uma tradição autoritária, repeliu Adalberto.
A postura do dirigente paraibano bateu de frente com a do presidente nacional do PT, José Dirceu. Este insinuou que o PT paraibano só poderia fazer alianças com o PMDB se este anunciasse o rompimento político com o governo de Fernando Henrique Cardoso. Dirceu também rechaçou alianças com os partidos de direita, como o PPB e o PFL. O PT não faz alianças com partidos de direita. Isto está bem claro em nossa resolução partidária, reagiu Dirceu. Contudo, Adalberto Fulgêncio manteve o seu ponto de vista, ponderando que em municípios do interior era possível haver aliança com o PFL, hoje DEM. Casos dessa natureza terão que ser resolvidos e analisados pela executiva estadual, enfatizou Adalberto. A temática das alianças partidárias era o calcanhar de Aquiles do PT, que procurava se apresentar como um partido puro, livre de vícios e não mancomunado com legendas tradicionais.
A decisão dele de se desfiliar ao PT foi motivada pelo rompimento de Luciano Cartaxo, em cuja primeira administração os petistas exerciam cargos de primeiro e segundo escalões. Os cargos foram devolvidos ao gestor por alguns petistas, que permaneceram na legenda, enquanto outros acompanharam Cartaxo na opção pelo PSD, que, a nível nacional, é comandado pelo ex-ministro Gilberto Kassab. Adalberto Fulgêncio voltou a Brasília para reassumir postos no ministério da Saúde, como o de Ouvidor do SUS. Luciano Cartaxo, Ricardo Coutinho, Adalberto, entre outros, eram expoentes do comando da legenda, mantendo canais de interlocução com a cúpula nacional. Nos últimos dias do seu segundo governo, Ricardo Coutinho (PSB) reaproximou-se do Partido dos Trabalhadores, que integra agora o governo de João Azevedo.
Nonato Guedes