O Partido dos Trabalhadores, que no domingo, 2 de fevereiro, completa 39 anos de fundação, foi saudado na mídia paraibana como uma grande novidade política, embora tivesse sido ignorado por líderes de partidos tradicionais, alguns dos quais se referiam à legenda em tom de deboche. É o que se lê no comentário publicado pelo jornalista Nonato Guedes em 11 de agosto de 1980 no extinto jornal O Norte. Editor político e colunista, Guedes informava: Neste fim de semana, um personagem novo passou a habitar o universo político da Paraíba: o Partido dos Trabalhadores, oficialmente lançado com a presença do seu dirigente máximo Luiz Inácio Lula da Silva, o bravo metalúrgico Lula das greves do ABC paulista que monopolizaram a sensibilidade nacional nos últimos anos. Muitos ainda mantêm distância do PT, torcem o nariz à sua passagem. Entretanto, o PT é uma realidade.
E prosseguia Guedes: Se há um projeto autenticamente original que sobreviveu aos escombros da ditadura esse projeto é o do PT. Basta tomar como parâmetro a reforma partidária ensaiada pelo Planalto. Dela emergiram siglas aparentemente novas, mas com velhos vícios, antigos hábitos, caras ancestrais. Até homens que se julgavam sepultados ou varridos da cena política retornaram para disputar o espaço, casos como os de Leonel Brizola, Jânio Quadros, Miguel Arraes e outros. E os remanescentes da geração forjada no arbítrio também não abdicaram de suas posições, casos como os de Ulysses Guimarães, Paulo Brossard, José Sarney, Nelson Marchezan e outros. Nessa constelação a novidade é Luiz Inácio Lula da Silva com o PT, um partido que brota da consciência política dos trabalhadores e dos assalariados, com uma roupagem avançada e com uma amplitude de espaço que reúne desde petroleiros a jornalistas. O PT nasce da suposição concreta de que no país se intensificou a proletarização da classe média, bem como a absolutização da miséria estampada nas classes baixas, formando um arco de interesses que se confluem, a eleger como inimigo comum o regime que as submeteu a tão humilhantes padrões humanos.
Nonato, que atualmente é colunista e repórter de Os Guedes, dizia que o Partido dos Trabalhadores soubera canalizar o conjunto de anseios das classes marginalizadas e, por isso, estava se revelando capaz de encampar uma pregação aberta, democrática, variada e, sobretudo, não-sectária. Ressaltava o articulista: Não é uma legenda obreirista nem é necessariamente cupulista, que se deixe dirigir por intelectuais ou burocratas. É um partido moderno, que abarca a totalidade dos assalariados brasileiros, vítimas de um modelo elitista e concentrador que igualou a todos na pobreza. Para Nonato, o PT chega à Paraíba arrebanhando em torno de si multidões sequiosas por pregações atualizadas. E o colunista emendava: Dele só se afastam os que ainda carregam preconceitos embutidos de uma formação elitista, pequeno-burguesa. Ou que acham que se pode ouvir Jarbas Passarinho ou Ulysses Guimarães, mas não se deve dar atenção a Lula e aseus liderados. Concluía o jornalista: Pois está na hora de começar a prestar atenção no PT. Sem querer exercer monopólio da classe trabalhadora, é o partido mais legítimo até agora que emergiu das ruínas da ditadura. Esperemos o futuro…