Um dos momentos mais dramáticos que o Partido dos Trabalhadores na Paraíba enfrentou, desde a fundação, em nível nacional, no ano de 1980, deu-se no pleito majoritário de 1994, quando o candidato do PMDB ao governo, senador Antônio Mariz, empenhou-se com vistas a atrair o apoio da agremiação, obtendo receptividade, inclusive, junto ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas enfrentando reações e divisões no âmbito local. Inicialmente, já em 93, o PT promovera encontro extraordinário indicando três pré-candidatos ao governo – Mrio Silveira, recém-filiado, Avenzoar de Arruda e Jairo de Oliveira. Ficou definido que o ungido seria anunciado em meio a uma prévia, após uma série de debates em várias cidades do Estado. A prévia aconteceu em meados de janeiro de 94 e o escolhido foi Mário Silveira, com mais de 52% dos votos. Mas em meados de março de 94, com a possibilidade de Mariz vir a ser o candidato do PMDB a governador, em substituição a Humberto Lucena, mais cotado na imprensa, eclodiram especulações sobre a hipótese de coligação por parte do PT.
O presidente do diretório regional era o ex-deputado estadual Anísio Maia, que divulgou nota informando que os petistas favoráveis à composição haviam condicionado qualquer entendimento nesse sentido ao rompimento de Mariz com o PMDB, e, como este se recusara a tanto, ficou afastada a hipótese da negociação. Já ungido candidato pelo PMDB, Mariz não desistiu de abrir canais com o PT. Disse que pretendia deixar a questão do vice para ser negociada com uma aliança de esquerda no segundo turno. Admitiu, também, votar em Lula no segundo turno, observando que no primeiro turno tinha compromisso de apoio a Orestes Quércia.A Executiva estadual petista chegou a se reunir com Mariz, que ouviu restrições ao governador Ronaldo Cunha Lima, apontado, até, como complicador para uma aliança. A Executiva foi formalmente autorizada a prosseguir o diálogo com Mariz, mediante condições como o apoio a Lula já no primeiro turno.
Mário Silveira, que foi vice de Mariz na chapa derrotada por Wilson Braga-José Carlos em 1982, enviou carta à direção do PT na Paraíba em abril de 94 renunciando à candidatura em caráter irrevogável, a pretexto de querer contribuir para o fortalecimento da campanha de Lula a presidente. Avenzoar Arruda, então vereador, por João Pessoa, segundo colocado na prévia do partido, foi escolhidoo novo candidato petista. E deflagrou tratativas para agilizar a formação da Frente Paraíba Popular, que aglutinaria o PSB, PCdoB e PSTU. O relato minucioso dessas articulações consta do livro O Partido dos Trabalhadores e a Política na Paraíba: construção e trajetória do partido no Estado, de autoria do professor universitário Paulo Giovani Antonino Nunes. Os entendimentos foram suspensos e o PT rejeitava a formação de palanques paralelos na campanha.
No vai-e-vem das discussões, foi dado pela Executiva regional petista prazo até o dia oito de maio para que Mariz apresentasse publicamente o teor das propostas de coligação entre os dois partidos. Na convenção ocorrida no início de maio de 94, o PT paraibano homologou a Frente Paraíba Popular, em apoio a Avenzoar Arruda, tendo Antônio Cariri, do PSB, como vice, Joaquim Neto (PT) e Francis Zenaide (PCdoB) como candidatos ao Senado. Nos bastidores, não obstante, ainda estavam abertos canais de conversação entre petistas e peemedebistas. Avenzoar Arruda decidiu radicalizar, emitindo nota em que explicitou que não renunciaria à sua candidatura ao governo, mesmo que Mariz (PMDB) e Lúcia Braga (candidata também ao governo) declarassem apoio a Lula no primeiro turno. Os vereadores CBS, Ricardo Coutinho e o deputado Chico Lopes fizeram declaração de apoio à candidatura de Avenzoar. Em junho de 94, Mariz voltou a manifestar interesse no apoio do PT e Lula disse num programa de rádio que estava disposto a conversar com Mariz se este declarasse apoio à sua candidatura ao Planalto.
A campanha de Avenzoar passou a enfrentar problemas, como a defecção do vice Antônio Cariri que anunciou apoio a Mariz. Anísio Maia chegou a dizer que a candidatura de Avenzoar estava prejudicando a campanha de Lula no Estado. Houve outras gestões, com participação de emissários da cúpula nacional petista. No final das contas, Mariz não anunciou apoio a Lula e disse que a aliança com o PT se tornara inviável devido a agressões de Avenzoar Arruda ao PMDB. No final de setembro, Mariz anunciou seu apoio ao candidato do PSDB, Fernando Henrique Cardoso. A candidatura de Avenzoar foi mantida e o percentual de votos que ele obteve assegurou o segundo turno no Estado, com a vitória de Mariz, tendo como vice José Maranhão, sobre Lúcia Braga.
Nonato Guedes