O Partido dos Trabalhadores completa, amanhã, 39 anos de fundação. Na Paraíba, a relação do PT com governadores quase sempre foi conflituosa, diante da postura de oposição sistemática a administrações estaduais desde os primórdios da legenda, posição esta que foi sustentada já pelos primeiros deputados eleitos sob o pálio do petismo. Um exemplo concreto foi a atitude do deputado Chico Lopes, que dirigiu críticas e cobranças ao governo de Tarcísio Burity, instalado em 1986, propondo uma CPI na área da Saúde, que era dirigida por Gilvan Navarro, cunhado do falecido gestor. Na sequência, Lopes assestou baterias contra o governo de Ronaldo Cunha Lima (PMDB), instalado em 91, questionando salários de professores, péssimas condições de atendimento na Saúde e outras supostas irregularidades. Chico Lopes requereu o impeachment do governador por alegada improbidade administrativa, bem como a suspensão das funções do então secretário de Indústria e Comércio, João da Mata, devido à concessão de empréstimos do Fain a empresas de sua propriedade.
A denúncia de Lopes chegou a ser formalizada junto à Comissão de Legislação e Justiça da Assembleia Legislativa, diretamente contra o governo do Estado, acusado de emprestar dinheiro irregularmente a empresários e, inclusive, a um secretário da área econômica. A Comissão deu parecer contrário à denúncia e sugeriu o arquivamento do processo. Lopes reagiu dizendo que o parecer fora dado com características eminentemente políticas, pelo fato de o governo ter maioria na Assembleia Legislativa. O diretório regional do Partido dos Trabalhadores também se pronunciou sobre o caso em nota oficial, acusando a gestão de Cunha Lima de desviar a atenção do centro das denúncias ao invés de responder com provas. Alertou, na ocasião, a opinião pública, para não se deixar iludir com manobras oriundas do executivo. Com o arquivamento do parecer, o procurador geral do Estado Luiz Bronzeado resolveu representar criminalmente o deputado Chico Lopes, por ofensa à honra do governador. Este afirmou que não temia ameaças e que continuaria denunciando irregularidades. O diretório nacional do PT e a CUT-PB solidarizaram-se com o parlamentar.
Chico Lopes mencionava, ainda, descaso do governo de Ronaldo com a questão dos sem-terra e manobras para torpedear Comissões Parlamentares de Inquérito propostas para apurar denúncias contra a Saelpa, irrigação e Detran. O filho de Ronaldo, ex-governador Cássio Cunha Lima (PSDB) também chegou a ser alvo do Partido dos Trabalhadores, que o acusou de beneficiar empresas de familiares com recursos oriundos de incentivos fiscais da Sudene, da qual fora superintendente. O autor das denúncias foi o então deputado federal Avenzoar Arruda, mas não houve maiores desdobramentos do caso. Cássio apresentou certidão atestando a sua inocência diante das acusações que qualificou de levianas. Um detalhe curioso: quando prefeito de Campina Grande, filiado ao PSDB, Cássio bancou uma aliança com o Partido dos Trabalhadores, indicando a sindicalista Cozete Barbosa para sua vice. Houve fortes reações de setores do PT estadual mas o então presidente nacional do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, deu aval à aliança. Cozete concluiu o mandato de Cássio Cunha Lima, mas foi impiedosamente acusada por adversários de fazer uma gestão desastrosa.
Nonato Guedes