O PSB do ex-governador Ricardo Coutinho está incomodado com o jejum no controle da prefeitura municipal de João Pessoa, que caminha para completar uma década, e articula ofensiva para retomar uma cidadela importante no Nordeste, como questão de honra e pauta prioritária, segundo revelou uma fonte bastante ligada ao ex-gestor paraibano. A contabilidade do jejum socialista, que é feita entre aliados de Ricardo, remonta ao período em que ele renunciou à prefeitura para disputar e vencer o governo do Estado em 2010. Coutinho foi sucedido por Luciano Agra, já falecido, que era o vice, e que tentou manobras para ser candidato à titularidade com o apoio de Nonato Bandeira (PPS), hoje reintegrado à liderança ricardista. Agra esbarrou na falta de espaço no PSB, que lançou Estelizabel Bezerra em 2012, e como represália adotou a candidatura de Cartaxo, vitorioso no segundo turno num embate com o tucano Cícero Lucena.
Na sequência, no período da disputa à reeleição, Cartaxo confrontou-se novamente com o PSB como principal adversário e que lançara a professora Cida Ramos, atual deputada estadual, que não conseguiu passar para o segundo turno. Em 2018, o esquema do prefeito foi golpeado com a derrota de Lucélio, irmão gêmeo de Luciano, ao governo do Estado, vencido por João Azevedo, nome que Ricardo Coutinho retirou do bolso do colete. A dados de hoje, sem canais com o governador João Azevedo e sofrendo constantes críticas de Ricardo que ultimamente está silencioso, por razões táticas Cartaxo quebra a cabeça para dispor de um nome forte na peleja de 2020. No seu círculo íntimo têm sido cogitados nomes como os de Diego Tavares e Zennedy Bezerra, mas o atual prefeito, que migrou do PT para o PSD e, depois,para o PV, onde está alojado, tem consciência de que a parada será dura, principalmente se o adversário for Ricardo Coutinho.
Natural de João Pessoa, tendo sido vereador e deputado estadual, além de prefeito eleito por duas vezes, Ricardo Coutinho tem grande influência nos domínios da Capital e, com o aval de Azevedo, seria o grande trunfo do PSB para voltar a comandar a prefeitura numa operação que pode aniquilar a sobrevivência política do clã Cartaxo, conforme projeções de analistas políticos. Expert nos meandros do jogo político e PhD em eleições em João Pessoa, Ricardo Coutinho não tem pressa em abrir a discussão dentro do esquema situacionista estadual sobre o pleito vindouro. E até desconversa, em manobra de despistamento, sobre uma provável candidatura sua. O que posso assegurar é que o PSB terá candidato a prefeito de João Pessoa para vencer. Quem viver, verá, ironizou recentemente, convicto de que as cartas estão com o seu esquema.
Desde que deixou o governo do Estado, onde permaneceu até o último dia do mandato, como estratégia para assegurar a unidade do esquema como suporte para a vitória de João Azevedo, que acabou surpreendendo no primeiro turno, apesar de ser neófito, Ricardo Coutinho tem investido em ações no circuito nacional, logrando ser escolhido pelo PSB como presidente da Fundação João Mangabeira, espécie de instituto de estudos políticos, cuja sede é em Brasília. Um passo marcante de Coutinho, nos primeiros dias à frente da Fundação, foi propor a criação de um Observatório da Democracia, congregando Fundações de estudos políticos de outros partidos de esquerda, para monitoramento de ações autoritárias do governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) e denúncia pública de retrocessos que vierem a ser implementados. Ricardo é crítico ferrenho da gestão Bolsonaro.
O ex-governador tem evitado imiscuir-se em questões relacionadas à Paraíba, por razões de caráter tático. A primeira delas faz parte da sua decisão de evitar paralelismo que possa atrapalhar a consolidação do governo de João Azevedo, pela qual se empenhou de forma obstinada. Uma outra causa do silêncio eventual de Coutinho tem a ver com o estouro de denúncias, inclusive, na mídia nacional, sobre irregularidades em contratos firmados pelo governo, na sua gestão, com organizações sociais, como a Cruz Vermelha do Brasil, para o gerenciamento de hospitais de complexidade como o de Trauma e Emergência Senador Humberto Lucena em João Pessoa. João Azevedo decretou intervenção em hospitais com gestão pactuada por 90 dias, prorrogáveis por mais 90, e secretários remanescentes da gestão anterior, mantidos por Azevedo, têm enfrentado dissabores, como o cumprimento de mandados judiciais de busca e apreensão de supostos documentos incriminadores. Ricardo espera o desdobramento das investigações para ganhar fôlego e voltar a imaginar fórmulas para derrotar adversários o que é uma espécie de esporte predileto seu.
Nonato Guedes