O ex-governador Ricardo Coutinho tem mantido um silêncio sepulcral sobre fatos relativos a irregularidades praticadas por organizações sociais como a Cruz Vermelha, contratada na sua gestão, para administrar hospitais como o de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena. O governador João Azevedo decretou intervenção em hospitais como o de Emergência e Trauma na Capital e ordenou minuciosa apuração de supostas irregularidades denunciadas. A postura silenciosa de Ricardo é definida como ética por interlocutores seus, referindo-se à relação que ele mantém com o sucessor, em cuja eleição no primeiro turno em outubro do ano passado foi decisivo. Mas Ricardo poderá romper o silêncio na semana que se inicia. Na terça-feira, 19, ele participa de um Seminário sobre Democracia Participativa e Cidadã na Fundação Casa de José Américo, dirigida pela sua irmã, Viviane Coutinho, e poderá comentar os primeiros dias do governo Azevedo se abordado por jornalistas.
Ricardo é presidente nacional da Fundação João Mangabeira, um órgão de estudos do Partido Socialista Brasileiro a que é filiado e definiu como uma de suas prioridades a implantação de um Observatório da Democracia destinado a acompanhar possíveis atentados do governo do presidente Jair Bolsonaro a práticas democráticas no país. O ex-governador também é o presidente regional do PSB no Estado e mantém articulação com líderes políticos nacionais de projeção discutindo os rumos da atual conjuntura. O seminário na Fundação Casa de José Américo tem início previsto para as 9h30 e contará com a participação de professores da Universidade Federal da Paraíba, bem como de agentes políticos de expressão. O ex-governador paraibano conseguiu agregar Fundações de Estudos de outros partidos de esquerda ao Observatório da Democracia.
No que diz respeito aos desdobramentos da Operação Calvário, que investiga uma suposta organização criminosa infiltrada na Cruz Vermelha, o Ministério Público da Paraíba criou um grupo de trabalho para atuar nos procedimentos necessários e o procurador-geral de Justiça Francisco Seráphico Ferraz da Nóbrega Filho designou três promotores que trabalharão sob a presidência do coordenador do Gaeco, Otávio Paulo Neto, juntamente com outros promotores do órgão. De acordo com portaria publicada no Diário Oficial Eletrônico do MPPB foram designados os promotores Rodrigo Pires, Fabiana Lobo e Eduardo Torres para integrarem o grupo de trabalho. A iniciativa foi elogiada pelo deputado oposicionista Tovar Correia Lima, do PSDB, que acredita que existe muita coisa para ser desvendada.
Na Assembleia, o deputado emedebista Raniery Paulino ainda tenta juntar assinaturas para ingressar com pedido de Comissão Parlamentar de Inquérito a fim de apurar supostos desvios de dinheiro público por meio da Cruz Vermelha, filial do Rio Grande do Sul. Dois ex-secretários do governo Ricardo, mantidos no governo Azevedo, são mencionados no inquérito Waldson de Souza e Livânia Farias, bem como o procurador geral Gilberto Carneiro. A mídia nacional destacou o vazamento de áudios com conversas aparentemente comprometedoras envolvendo Waldson, Carneiro e uma terceira pessoa. A Operação Calvário foi desencadeada no dia 14 de dezembro passado por órgãos do Ministério Público do Rio de Janeiro, Paraíba e Goiás, a fim de averiguar uma Orcrim que atua como Cruz Vermelha Brasileira, filial do Rio Grande do Sul. Houve operação na Paraíba para cumprimento de mandados de prisão e de busca e apreensão.
Nonato Guedes