Política é risco, intuição e sorte. Daniella Ribeiro agregou esses três fatores numa conjunção harmoniosa para respaldar a sua ousadia em tentar saltar da Assembleia Legislativa para o Senado Federal em 2018. Chegou lá com méritos e determinação, transformando-se na primeira senadora da história da Paraíba obteve 24,25% em percentual de votos, numa disputa que registrou pesos-pesados da política como Cássio Cunha Lima, Roberto Paulino e Luiz Couto. Na prática, Daniella (PP) alcançou 831.715 mil votos, dividindo cadeira na bancada paraibana com o ex-deputado federal Veneziano Vital do Rêgo. Em pouco tempo, Daniella procurou se credenciar no cenário nacional é líder da bancada de senadores do PP, integrada, entre outros, pelo ex-governador de Santa Catarina, Esperidião Amin, já abriu interlocução com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre e está articulada com a bancada feminina para lutas que prometem agitar o Parlamento. Como nada é perfeito, Daniella já coleciona críticas pelo suposto deslumbramento de que estaria acometida, fugindo do contato com jornalistas paraibanos e pecando pela falta de definição mais clara sobre suas posições em meio a tantas questões cruciais que estão em pauta no plano nacional e estadual.
Há 11 anos na atividade política, expoente de uma Frente Parlamentar em Defesa da Mulher que deixou frutos na Assembleia Legislativa onde exerceu dois mandatos Daniella não disse, ainda, objetivamente, o que pensa do governo (e das crises e polêmicas) do presidente Jair Bolsonaro nem qual é a sua opinião sobre o governo do socialista João Azevedo, na Paraíba. Seu candidato a governador foi derrotado Lucélio Cartaxo, do PV, irmão gêmeo do prefeito de João Pessoa, Luciano, que foi lançado numa coalizão de forças em que teve projeção o PSDB do ex-senador Cássio Cunha Lima, derrotado na luta pela reeleição, e do prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, em trânsito para outra legenda, diga-se de passagem. A assertiva protocolar de que não fará oposição à Paraíba nem ao Brasil é um agá, como se diz no jargão popular. Na Paraíba, setores de oposição mais afirmativos ao governo do PSB tentam explorar ao máximo o episódio das irregularidades cometidas na contratação de organizações sociais (OS) para gerir hospitais públicos como o de Emergência e Trauma de João Pessoa. O governador João Azevedo decretou intervenção naquele hospital, gerido pela Cruz Vermelha Brasileira e em outros hospitais terceirizados a outras OS. Não se ouviu uma palavra da senadora a respeito do assunto.
Até pelo espírito de independência e combatividade com que forjou seu perfil na Casa de Epitácio Pessoa, a senadora Daniella Ribeiro já deveria estar participando ativamente das graves discussões nacionais e estaduais isto é o mínimo que se espera da representação que foi ungida pelo voto. Os paraibanos, até quem não votou em Daniella, vibraram com sua eleição e com seu feito que deixou outras mulheres que disputaram o Senado comendo poeira, como Cozete Barbosa, Leila Fonseca, Rama Dantas. Quando deputada, Daniella foi intimorata na denúncia da onda de violência imperante na Paraíba e chegou a pleitear uma audiência com o então governador Ricardo Coutinho, que a recebeu na Granja Santana. Agora, em nível nacional, debate-se em diversas esferas o plano contra a criminalidade apresentado pelo ministro Sérgio Moro, que, naturalmente, contém pontos vulneráveis. A senadora Daniella Ribeiro não mergulha nas discussões acerca de tema tão palpitante. Também não antecipa prognósticos sobre pontos controversos da reforma da Previdência Social, que tira o sono de milhares de pessoas em todo o país.
Haverá algum absurdo em cobrar da primeira senadora da história da Paraíba posicionamentos claros, límpidos, sobre estes temas que nos interessam? De forma alguma. Parlamentares não se projetam necessariamente por serem indicados para cargos no Legislativo estes são importantes instrumentos de trabalho para quem aspira a um desempenho eficiente e produtivo. O ex-senador Cássio Cunha Lima foi primeiro vice-presidente do Senado e chegou a assumir a titularidade em ocasiões de licença do ex-presidente Eunício Oliveira, do Ceará. Mas o que deu repercussão e visibilidade a Cássio, ainda que pagando o caro preço inerente à tomada de posições, foi a sua atuação na linha de frente de denúncias sobre o governo da petista Dilma Rousseff e, mais tarde, sua atitude franca, aberta, sem subterfúgios, a favor do impeachment da ex-mandatária. Vítima de tsunami político, na concepção dele próprio, Cássio deixou um legado marcante na produção legislativa propriamente dita. A senadora Daniella tem oito anos de mandato pela frente. Talvez não queira mostrar tudo do que é capaz de legislar em favor do interesse público. Cada político rege-se de acordo com o figurino mais ajustado às suas convicções, mais identificado com o seu perfil. Dê-se a Daniella o beneplácito da dúvida ou a concessão do tempo. Imperdoável é o deslumbramento, a comemoração permanente por ter conquistado uma proeza. Isso já é história e nada impede que seja festejado em ocasiões especiais e informais. O momento prático pede trabalho, trabalho e trabalho este é o mantra que a senadora precisa cultivar para se legitimar no mandato conquistado com garra e competência.
Nonato Guedes