O governador João Azevedo (PSB) tem dado demonstrações eloquentes de que não mordeu a isca plantada por remanescentes do governo Ricardo Coutinho no sentido de que ele partisse para radicalizar contra o governo do presidente Jair Bolsonaro, como vindita pela derrota do petismo nas eleições do ano passado. Pragmático, Azevedo preferiu desmontar palanques e cuidar de administrar, que é o que lhe cabe, conforme ficou expresso nas urnas que o consagraram em primeiro turno e de acordo com o que está sendo reivindicado pela população paraibana. Numa manobra taticamente correta, deixou a missão de politicar para o antecessor Ricardo Coutinho, que, aliás, ganhou tribuna de honra para brotar na mídia a Fundação João Mangabeira, do PSB, ainda tateando na pauta, a ponto de cancelar evento que teria RC como estrela em João Pessoa, se bem que haja especulações de bastidores com versões distintas para o tal cancelamento.
No que diz respeito a Azevedo, ele foi visto em Brasília participando ativamente do Fórum de Governadores com ministros de Bolsonaro, como Paulo Guedes, para tratar da reforma da Previdência. Não se poderia esperar outra postura do governante, já que se trata de um assunto para lá de controverso e que afeta colateralmente os Estados, chamados a pagar a conta maior, enquanto a União promove convescotes nababescos. Azevedo, diga-se de passagem, não faz rapapés a ministros e autoridades federais, atendo-se ao formalismo do Cerimonial e ao manual de boas maneiras. É seco e econômico em elogios, mas quando tem de fazê-los, não se furta. Foi assim que disse à imprensa que a reforma da Previdência é necessária, indispensável até, condicionada, entretanto, a ajustes. Criticou-se o governador por não ter recebido a ministra Thereza Cristina, da Agricultura, mas parece não ter havido ferimento grave.
O fato é que Azevedo, ao contrário do que sonhavam xiitas paraibanos, busca evitar o isolamento. Por razões óbvias: só ele e a Paraíba teriam a perder com isso. Querem um exemplo concreto de como as coisas funcionam na prática e não como algumas pessoas desejam? A Comissão de Assuntos Econômicos do Senado já pautou para a próxima terça-feira a votação do empréstimo de US$ 50 milhões junto ao BIRD, cujos recursos destinam-se ao financiamento parcial do programa Paraíba Rural Sustentável. Esse fato levou o ex-senador Cássio Cunha Lima (PSDB), que também foi eleito governador da Paraíba por duas vezes, a comentar, com certa ironia: João Azevedo não pode reclamar do tratamento recebido de Bolsonaro. O envio dessa matéria para o Senado, diga-se de passagem, aconteceu em tempo recorde. Se Bolsonaro fosse um perseguidor como socialistas paraibanos, a coisa seria diferente.
Abstraindo as ironias de Cássio que tem sido fustigado impiedosamente, já há muito tempo, sobretudo pelo ex-governador Ricardo Coutinho o grande líder do PSDB da Paraíba fundamenta-se em fatos contra os quais não há argumentos. Fatos irrefutáveis porque assinalam a diferença de tratamento que está se verificando na relação institucional entre poderes no Brasil. Talvez poucos percebam a singularidade ou o simbolismo de mudanças introduzidas em gestos ou em atos concretos. Mas as mudanças existem. A gestão de Bolsonaro pode ser questionada em vários outros aspectos, mas não no que diz respeito ao esforço para agilizar reformas que ele prometeu a céu aberto, em praça pública, na campanha eleitoral. No que tange à representação política, todos sabem que a Paraíba não tem expoentes de peso no staff do presidente Jair Bolsonaro. Mas, em situações assim, cabe ao próprio governador mesmo sendo de outro partido e à bancada federal vestirem a camisa do Estado e defender com ardor suas cores no Olimpo do poder o Planalto. Não há governo que discrimine Estado conscientemente, muito menos quando não há razões plausíveis para tanto. É o que fica como lição.
Nonato Guedes