Há 87 anos, no dia 24 de fevereiro de 1932, as brasileiras conquistaram o direito de voto. O Brasil foi o segundo país da América Latina a assinalar esse marco, atrás apenas do Equador. Hoje, mais de 52% do eleitorado brasileiro compõe-se de pessoas do sexo feminino. A ascensão das mulheres aos centros de poder tem sido oscilante ou variável. Mas vitórias extraordinárias têm sido extraídas nas lutas permanentes que elas desenvolvem em paralelo com o processo de conscientização de que são tomadas. Em 2018, na Paraíba, foi eleita a primeira senadora da história a ex-deputada estadual Daniella Ribeiro, do PP, que é líder da bancada na Casa, composta, maciçamente, por homens. A médica Lígia Feliciano, do PDT, pela segunda vez consecutiva, é vice-governadora do Estado foi parceira de Ricardo Coutinho e hoje é co-gestora de João Azevedo, ambos do PSB.
A representação feminina na Assembleia Legislativa, se não é bastante expressiva do ponto de vista quantitativo, é crescente e aglutina quadros de valor indiscutível, como as deputadas Estelizabel Bezerra, Camila Toscano, Paula Francinete, Pollyanna Dutra, Cida Ramos. Em termos de vice-governança, tivemos, na primeira gestão de Cássio Cunha Lima, do PSDB, Lauremília Lucena em papel de destaque, inclusive, assumindo a titularidade em algumas ocasiões. Ela é mulher do ex-senador, ex-governador e ex-prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena. A primeira deputada estadual eleita na Paraíba, em 1982, foi Vani Braga, irmã do ex-governador Wilson Braga, ambos do PDS. Tanto Vani como Wilson foram eleitos na mesma campanha e hoje estão afastados da militância propriamente dita. No país, Dilma Rousseff tornou-se em 2010, pelo PT, a primeira mulher presidente, reeleita em 2014. Foi, também, a primeira mulher-presidente a sofrer um impeachment, em 2016, que os petistas ainda hoje denominam de golpe. Nas eleições do ano passado, Dilma tentou, sem êxito, eleger-se senadora por Minas Gerais.
A primeira prefeita de Capital foi Maria Luiza Fontenele, em Fortaleza, filiada ao PT, eleita em 1986. Dois anos depois, a paraibana Luiza Erundina, natural de Uiraúna e também filiada ao Partido dos Trabalhadores, conseguiu a façanha de ser a primeira mulher a administrar São Paulo, a maior cidade do Brasil. A primeira senadora foi Eunice Michiles, da Arena do Amazonas, em 1979. Ela era suplente e assumiu a cadeira devido à morte do titular João Bosco de Lima. A Princesa Isabel ocupara vaga no Senado na época do Império mas não pelo voto. Em entrevista à rede britânica BBC em 2013,Michiles lembrou que o Senado não tinha nem banheiro feminino, o que dá uma ideia do predomínio machista nas Casas Legislativas brasileiras. Filha de um seringueiro e de uma imigrante árabe, a professora e advogada Iolanda Fleming foi eleita vice-governadora do Acre em 1982. Assumiu o governo do Estado em 1986, com o afastamento do titular Nabor Júnior para concorrer ao Senado e concluiu o mandato em 1987 ano em que se divorciou e passou a usar o nome de solteira, Iolanda Ferreira Lima. A primeira deputada federal do Brasil foi a médica Carlota Pereira Queiroz. Após organizar a assistência aos feridos na Revolução Constitucionalista em São Paulo em 1932, Carlota foi eleita em 1933 para a Assembleia Nacional Constituinte na chapa paulista e, em 1934, conseguiu uma cadeira na Câmara dos Deputados.
Pioneirismo mesmo foi de Alzira Soriano de Souza, primeira mulher a ocupar um cargo eletivo no Brasil: eleita prefeita de Lajes, no Rio Grande do Norte, alcançou 60% dos votos válidos. Entretanto, ela não completou o mandato, pois foi afastada em 1930 por ser contra o governo de Getúlio Vargas. As primeiras vereadoras, cargo então chamado de intendente municipal, também foram eleitas em 1928 no Rio Grande do Norte, segundo o Tribunal Regional Eleitoral do Estado: Júlia Alves Barbosa, em Natal, e Joana Cacilda de Bessa, na cidade de Pau dos Ferros. Hoje, o Rio Grande do Norte é o único Estado brasileiro governado por uma mulher, natural da Paraíba, e que foi eleita em 2018. A representatividade feminina no Congresso Nacional ainda é considerada uma das mais baixas do mundo. As brasileiras começaram a votar em 32 quando o primeiro Código Eleitoral do Brasil fixou que mulheres casadas, com autorização do marido, viúvas e solteiras com renda própria, poderiam exercer sua cidadania. Dois anos depois, em 1934, essas restrições foram retiradas e o voto passou a ser obrigatório a todas as mulheres maiores de 18 anos no Brasil. Desde então, a política brasileira tem cedido espaços às lideranças femininas, num avanço ainda aquém do ideal. A luta delas continua.
Nonato Guedes