Uma reportagem da revista Veja confirma versão que é lugar-comum nas rodas de conversas populares e na mídia: a pastora Damares Regina Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, consagrou-se como a figura mais folclórica do chamado núcleo ideológico do governo do presidente Jair Bolsonaro. Declarações pitorescas sobre a cor apropriada para cada sexo azul para meninos, rosa para meninas, ou sobre holandeses que estimulam a masturbação de bebês tornaram-na um meme fácil. O dado novo é que Damares vem tentando reverter essa imagem com uma agenda livre de controvérsias. Entrou em cena sempre que havia uma posição consensual a defender: foi a Brumadinho propagandear que estava acompanhando as ações de indenização aos atingidos pelo rompimento da barragem em Minas Gerais; abriu um canal de denúncias sobre as más condições em centros de treinamento após o incêndio que matou dez jogadores da base do Flamengo e prometeu ampliar a pena para religiosos abusadores sexuais, em coletiva junto com a força-tarefa que prendeu o médium João de Deus e condenou as violações aos direitos humanos na Venezuela.
Não obstante todo o esforço para se dissociar da condição de pastora evangélica, foi com pautas evangélicas que Damares ganhou o cargo. Ela aludiu discretamente a essas pautas no recente discurso na ONU em que defendeu a proteção à vida desde a concepção, fechando a porta para o aborto. Advogada de formação, Damares foi assessora parlamentar na Câmara dos Deputados e forneceu subsídios para projetos de lei controversos como o Estatuto do Nascituro e a Cura Gay. Montou estratégias para barrar projetos contrários às igrejas e contribuiu para criar a Frente Parlamentar da Família. Natural do Paraná, mas criada no Nordeste, teve papel importante na campanha de Bolsonaro na região, principalmente depois que o atentado a faca impediu o candidato de viajar.
Na reta final da campanha presidencial, Damares Alves aproximou-se da primeira-dama Michelle Bolsonaro, de quem virou colega de orações. Ela foi importantíssima para que a bancada evangélica se convertesse no que é hoje, diz o ex-deputado Josué Bengston, do PTB do Pará, tio da ministra, que contratou a sobrinha como assessora em 1990, o primeiro emprego dela no Congresso. O trabalho de Damares em organizações religiosas que atuam em tribos indígenas vem passando pelo crivo da opinião pública, sobretudo por causa de sua relação com uma jovem indígena que criou como filha mas não adotou formalmente. A ministra, porém, chega a ser respeitada por não simpatizantes, dela e do governo Bolsonaro, por ter sofrido abuso sexual de dois pastores na infância, relata a Veja.
Uma faceta que surpreendeu a muitos na personalidade de Damares foi a de pessoa de diálogo, demonstrada na primeira reunião que teve como ministra com representantes da comunidade LGBT, em dezembro de 2018. É uma pessoa que eu respeito, diz o presidente da Aliança Nacional LGBT, Toni Reis. O ativista da causa gay, entretanto, ainda desconfia das garantias de que o governo não reverterá seus direitos. Temo algum tipo de retrocesso, explicitou. Recentemente, Damares foi escalada para melhorar a imagem internacional do presidente Bolsonaro no Conselho de Direitos Humanos da ONU em Genebra, na Suíça (Bolsonaro havia dito, em campanha eleitoral, que a ONU não servia para nada. Damares não fez feio no discurso, pontua a Veja, lembrando que a ministra falou no compromisso inabalável de proteger os corajosos defensores dos direitos humanos e na agenda prioritária de combater a discriminação contra afrodescendentes e a comunidade LGBT.Revelou, enfim, que o Brasil iria disputar mais um mandato no conselho.
Nonato Guedes