Na luta para quebrar barreiras e conseguir fazer parte do clube ainda restrito da atividade política, mulheres de destaque da Paraíba não hesitaram em valer-se do prestígio de homens ilustres da família como estratégia destinada a facilitar seus passos e garantir seus espaços. Este foi o caso de Iraê Lucena, filha do falecido senador Humberto Lucena, expoente do antigo PMDB, hoje MDB. Foi em Brasília, já universitária, que Iraê aguçou seu gosto pela política e se aproximou do fazer do pai afirmam as professoras Glória Rabay e Maria Eulina Pessoa de Carvalho, que entrevistaram a filha do ex-senador para o livro Mulher e Política na Paraíba.
Formada em Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda, Iraê enfronhou-se no universo político ao atuar como assessora parlamentar do pai, quando este foi deputado federal, e Chefe de Gabinete de políticos como o ex-deputado José Luiz Clerot. Iraê confessa que herdou a aptidão para a política mas que o convívio harmonioso com o pai contribuiu muito para a sua formação. Nunca tivemos divergências; ele foi meu mestre e meu herói sempre, ressaltou. Se dependesse dela, o batismo político teria se dado mais cedo na prática, Iraê teve que esperar um tempo para mergulhar de cabeça numa atividade que sempre a fascinou. O pai preveniu-a de que precisava fazer acomodações internas no partido para viabilizar o lançamento da filha na política, amainando resistências e ciumadas naturais de demais postulantes. Esse método era característico do perfil de Humberto, conhecido pela sua habilidade em vencer arestas e pacificar pretensões.
Iraê narrou que teve de cavar seu próprio espaço com paciência e persistência, até finalmente obter a bênção do pai e dobrar a resistência de um filho, que não queria trocar Brasília pela Paraíba. Posso até dizer que forcei a barra; às vezes fico achando que devia ter entrado na política mais cedo, mas acredito que nada acontece por acaso e, segundo ele mesmo (Humberto Lucena) dizia, minha hora haveria de chegar, adiantou. Inicialmente havia a ideia, acalentada pela própria Iraê, de começar logo pela deputação federal. O pai sempre ele argumentava que ela deveria partir como candidata à Assembleia Legislativa, inclusive, como tática de aprendizado, para conhecer de perto os problemas da Paraíba e do povo paraibano. A espera teve um fim no ano de 1998, quando Iraê passou a percorrer municípios pedindo votos para uma cadeira na Assembleia a esta altura, Humberto deparava-se com graves problemas de saúde que ocasionaram a sua morte. Quando ele morreu, muita gente achou que eu iria desistir; pelo contrário, surgiu uma força muito grande dentro de mim, e fui eleita, com uma votação expressiva 20.630 votos, relatou a ex-parlamentar.
Uma irmã de Iraê, Lisle, que ganhou destaque na mídia como namorada do ex-presidente Itamar Franco e musa inspiradora da volta do fusquinha ao mercado automobilístico brasileiro, concorreu a uma vaga de deputada para a Câmara Distrital (a Assembleia Legislativa do Distrito Federal), teve uma votação muito expressiva, chegou a ser convidada pelo ex-governador Joaquim Roriz para cargos de projeção, mas não logrou sair vitoriosa. Na primeira campanha, Iraê usou uma foto em que aparecia abraçada ao pai, transformada em outdoor com os dizeres: Em nome do pai, pela Paraíba. Ela conta que foi muito criticada com insinuações de apelação eleitoreira. Eu não usei o slogan e a foto só para me eleger. Na verdade, o que quis fazer foi uma homenagem a ele, rebateu, lembrando que a ideia foi copiada por outros postulantes de sobrenome influente na política paraibana.
Com a morte de Humberto, Iraê passou a ser árbitra das decisões sobre sua trajetória política, concorrendo outras vezes e enfrentando as consequências dos ciclos de renovação no processo, de que redundou a emergência de concorrentes com maior fôlego ou densidade. Sua visão acerca das oscilações políticas e da manifestação do eleitorado sempre foi compreensiva e realista. Seu conceito de política, seguindo a tradição do pai, é o serviço. Inspirava-se, também, no ex-ministro José Américo de Almeida, para quem política é a arte deservir e não de servir-se. O político tem que estar pronto para atender às reivindicações de seus eleitores, das suas bases e dos seus municípios. Vejo o eleitor de hoje mais esclarecido e conhecedor dos seus problemas o desemprego, carência na área de Saúde, deficiência na Educação, opinou Iraê Lucena no depoimento concedido em 1999 e que se mantém atualizado com a conjuntura vigente no país.
Nonato Guedes