O ex-senador paraibano Marcondes Gadelha (PSC) está ultimando os preparativos e dando os retoques finais para lançamento do livro sobre a candidatura do apresentador Sílvio Santos, também proprietário do SBT, à presidência da República em 1989, na primeira eleição direta após o regime militar. Sílvio lançou chapa tendo como vice o próprio Marcondes, que era filiado ao extinto PFL, atual DEM, e que participara do programa Show do Milhão no auditório do SBT juntamente com outras figuras de destaque da política nacional, a exemplo de Aloízio Mercadante, do PT, e Paulo Maluf, que foi do PP. Na disputa presidencial de 89, pelo menos vinte e dois candidatos estavam inscritos. Foi o primeiro pleito com vigência do segundo turno e, neste, o embate se deu entre Fernando Collor de Mello, que disputou pelo PRN, e Luiz Inácio Lula da Silva, pelo PT. Collor foi vitorioso.
Demorou pouco, porém, a lua de mel do eleitorado com o presidente Collor e o seu governo, envolvido em denúncias de tráfico de influência e desvio de recursos para o esquema PC Farias, coordenado pelo ex-tesoureiro de campanha, encontrado morto, posteriormente, numa casa de praia, em Alagoas, em circunstâncias até hoje não esclarecidas pelas autoridades policiais. A chapa Sílvio Santos-Marcondes foi impugnada no Tribunal Superior Eleitoral devido a irregularidades no registro e, em paralelo, a uma orquestração de bastidores de adversários políticos influentes. Pesquisas de opinião pública e de intenção de voto realizadas à época atestaram que Sílvio tinha possibilidades concretas de crescer durante a campanha e sair vitorioso, o que não interessava, por exemplo, a empresários de comunicação como Roberto Marinho, das Organizações Globo.
O livro de Marcondes será intitulado Sílvio Presidente Um Caso da Política Tropical. A aventura da chapa presidencial já foi contada por jornalistas e por um dos biógrafos de Sílvio Santos, Arlindo Silva, que trabalhou sob as ordens dele no Sistema Brasileiro de Televisão. Mas Marcondes faz um relato do ponto de vista de coadjuvante privilegiado do processo. Ele assegura que a postulação de Sílvio Santos foi impugnada devido a um recurso no TSE alegando que a legenda não tinha cumprido exigências legais para homologar candidaturas, tais como a realização de convenções em pelo menos nove Estados. A expectativa de Marcondes é a de que o livro vá ao prelo no próximo mês de abril. Da corrida presidencial em 89 participaram, ainda, notáveis que já experimentavam o declínio político-eleitoral, como Ulysses Guimarães, timoneiro, no PMDB, da resistência democrática contra os militares, e que ficou praticamente no último lugar. Concorreram, ainda, Leonel Brizola, recém-anistiado pelo regime militar, Mário Covas, Guilherme Afif Domingues, Ronaldo Caiado.
Para Marcondes Gadelha, se o apresentador Sílvio Santos tivesse sido eleito poderia ser uma grata surpresa no cenário político brasileiro, diante do seu carisma e da vontade sincera de adotar medidas favorecendo as camadas mais pobres da população, onde seu desempenho eleitoral era acentuado. O ex-senador paraibano acha que Sílvio se constituiu numa ameaça concreta aos poderosos, atraindo contra si a orquestração que acabou por detonar a sua candidatura. O apresentador ainda tentou ser candidato a prefeito de São Paulo e a governador do Estado, mas sempre foi rechaçado pelas cúpulas. Quanto a Marcondes Gadelha, pendurou as chuteiras políticas. Ele exerceu até o final de 2018 mandato de deputado federal, que assumira um ano antes, como suplente, em virtude da morte do deputado Rômulo Gouveia. Seu filho, Leonardo, que foi presidente nacional do INSS, concorreu à deputação federal, sem, no entanto, lograr êxito, ficando numa das primeiras suplências da representação paraibana.
Nonato Guedes