A derrota na tentativa de se reeleger em 2018 não tirou de cena o ex-governador e ex-senador Cássio Cunha Lima, do PSDB, que ontem se encontrava em São Paulo. Ele é mencionado entre as forças políticas de oposição como figura credenciada para liderar o agrupamento nos embates futuros, começando pelas eleições municipais para prefeitos, vice-prefeitos e vereadores. Desta feita, vai se firmando um compromisso tácito de unidade dos oposicionistas para valer, virando-se em definitivo a página da estratégia de dispersão do pleito do ano passado, quando Lucélio Cartaxo não logrou atrair o empenho ou o apoio de outras lideranças e acabou sendo derrotado no primeiro turno por João Azevedo, ungido pelo então governador Ricardo Coutinho (PSB) como o seu sucessor.
As eleições de 2018 simbolizaram um divisor de águas, com o enfraquecimento de opositores do esquema liderado por Ricardo Coutinho, enquanto o esquema situacionista colecionou, além da vitória da chapa ao Executivo, tendo Lígia Feliciano novamente na vice, a posse de uma cadeira no Senado pelo ex-deputado federal Veneziano Vital do Rêgo, que providencialmente saiu das fileiras do MDB, onde nunca encontraria espaço para voos maiores ou para saltos mais expressivos. Em termos de Assembleia Legislativa, o PSB reforçou sua bancada, com a ascensão de valores históricos e de quadros emergentes atraídos por estratégia habilidosa de cooptação empreendida pelo ex-governador Ricardo Coutinho.
Embora tenha sido derrotado na corrida pelo Senado, Cássio Cunha Lima é reconhecido nas áreas políticas como detentor de potencial para operar, futuramente, a metamorfose da Fênix, pelo prestígio e competência como articulador, pela experiência acumulada em enfrentamentos com raposas políticas do Estado e pela sensibilidade em se compor ou mesmo se recompor com eventuais adversários, por mais que privilegie os aliados. Cássio tem experimentado um vestibular político importantíssimo na trajetória que desenvolve. Em 2010, quando se aliou a Ricardo Coutinho e foi eleito senador, ele obteve um desagravo do eleitorado diante da cassação imposta pelo TSE no final do seu segundo mandato como governador, em 2009, e que Cunha Lima qualificou como um dos maiores erros da história do Judiciário no país.
Em 2014, alertado pela sua intuição no sentido de retomar espaço político próprio, o ex-senador Cássio Cunha Lima já se encontrava do outro lado da trincheira, combatendo Ricardo Coutinho. A lua de mel entre ambos foi rápida e serviu para demonstrar que havia mais divergências do que afinidades entre eles, sem falar que o personalismo do ex-governador Ricardo Coutinho respondeu pela inevitabilidade do rompimento. Mesmo consciente da desigualdade que seria concorrer ao governo contra um governador no comando efetivo da máquina, Cássio partiu para a ousadia e duelou com Ricardo nas urnas, perdendo para ele. Conservou, todavia, o mandato de senador, em que se esmerou de forma tal que sua projeção saltou para patamares elevados, conduzindo-o à vice-presidência do Senado, à liderança do partido e ao destaque natural reservado a quem está na linha de frente de acontecimentos de repercussão, como se deu quando tomou posição firme pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), acolhendo o circunstanciado parecer do Tribunal de Contas da União sobre irregularidades administrativas insanáveis.
O resultado negativo de 2018 tem sido contextualizado por Cássio nos limites de tsunami político com incidência nacional, que passou como um trator por cima de líderes e de conjunturas regionais, abrindo flanco para a emergência de outsiders ou de neófitos políticos a partir do próprio presidente eleito Jair Bolsonaro, que não tinha visibilidade nacional mais acentuada e, no entanto, logrou repetir, guardadas as proporções, façanha protagonizada por Fernando Collor de Melo em 89 quando deixou notáveis comendo poeira, a exemplo do doutor Ulysses Guimarães e do ex-governador de São Paulo, Mário Covas. Cássio conhece essas oscilações que acometem o cenário da política, que, como dizem as raposas de Minas Gerais, assemelha-se a uma nuvem olha-se para ela, está de um jeito; olha-se novamente, está de outro jeito. Cássio, a dados de hoje, é um perscrutador de sinais. Agora mais do que antes, como costuma dizer. No começo da carreira, tateava os sinais como qualquer jejuno ávido por aprendizagem sobre os meandros da atividade. Agora, perquire os ventos da conjuntura para deduzir que direção estão tomando, em estreita interlocução com a voz rouca das ruas. É tudo isso e muito mais que o fazem detentor de injunções preliminares que miram o futuro. Como todos nós sabemos, o futuro a Deus pertence. E Cássio tem paciência para esperar, vencida a ansiedade que o faz balançar as pernas freneticamente, no minueto de um tique característico em momentos de tensão. A anotar e conferir!
Nonato Guedes