A crise que se desenrola no governo da Paraíba, decorrente de denúncias contra secretários e da prisão de Livânia Farias (ex-Administração), tendo como pano de fundo supostas irregularidades e recebimento de vantagens ofertadas por organizações sociais, como a Cruz Vermelha, que vinham gerindo a Saúde Pública, acabou produzindo um pacto de união e blindagem dos chamados girassóis (socialistas locais) com vistas a enfrentar as oposições. O governador João Azevedo e o ex-governador Ricardo Coutinho assumiram a tarefa de mobilizar discípulos e aliados políticos, sobretudo na Assembleia Legislativa, para não deixar acusação sem resposta nem se intimidar diante do barulho dos adversários de hoje do Palácio da Redenção.
O esquema governista atua em várias frentes simultaneamente: na parte administrativa, deslanchando ofensiva de ações e investimentos, além de benefícios pontuais; na parte política, preservando uma agenda positiva nas matérias encaminhadas à Assembleia e, na parte jurídica, valendo-se de um arsenal de advogados para prestar assistência a implicados em denúncias e desmontar acusações que estão sendo feitas. A cúpula representada por Azevedo e por Ricardo mantém-se atenta monitorando a situação diante da hipótese de novas investidas contra ex-auxiliares da Era Coutinho, mantidos por Azevedo dentro da filosofia de continuidade. A exortação de Ricardo no sentido de que ninguém solta as mãos nesse governo foi encarada como senha ou mantra, que passou a ser repetido entre os girassóis como tática de sobrevivência.
Fontes palacianas disseram com exclusividade a Os Guedes que o governo considera mesmo estar em curso uma orquestração para desconstruir o projeto socialista empalmado por Ricardo Coutinho desde 2010, quando se elegeu pela primeira vez ao Executivo, vencendo oligarquias políticas tradicionais, ainda que se aliando estrategicamente a outras para poder ascender, tal como se deu com os Cunha Lima, posteriormente descartados, e com o DEM do ex-senador Efraim Morais, que se mantém firme como rocha na condição de satélite do agrupamento girassolaico. O pacto de união ora firmado, na definição de um deputado da base, tem laços de sangue, reproduzindo métodos de famiglias que na Itália, por exemplo, não se dispersam diante de tempestades; pelo contrário, tornam-se mais umbilicalmente vinculadas entre si.
Há uma preocupação latente com a ameaça de desânimo ou desestímulo por parte de aliados políticos do projeto que Azevedo tenta dar prosseguimento em atmosfera tumultuada. Esse desencorajamento, conforme registrado em avaliações nas reuniões domésticas, poderia desencadear revoada ou defecções em série no agrupamento que orbita em torno do PSB, enfraquecendo a narrativa oficial e, ao mesmo tempo, dando munição, de mão beijada, aos adversários que têm se empenhado para abrir fissuras no granítico bloco da situação. O rol dos adversários inclui, além dos Cunha Lima, o prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV), cujo irmão Lucélio concorreu ao governo e foi derrotado por Azevedo com a influência mítica de Ricardo. O receio é o de que os Cartaxo descubram fórmulas para ganhar fôlego numa blitzkrieg contra Ricardo e Azevedo, alimentada pelo sentimento revanchista gerado pela derrota nas últimas eleições ainda não digerida.
A quem questiona se essa estratégia de sobrevivência vai dar certo, os emissários do ex-governador Ricardo Coutinho, alinhados com o governador João Azevedo, ressaltam que é o que se tem, nas atuais circunstâncias de temperatura e pressão. Avaliam, igualmente, que a oposição não está estruturada de forma competente para encurralar o governo e desbancar o projeto dos girassóis, havendo, mesmo, conflito de interesses entre expoentes adversários do situacionismo. Enquanto tenta fazer sua parte demonstrando lealdade a Ricardo e até radicalizando no tom contra prisões e denúncias, o governador João Azevedo preocupa-se essencialmente com a manutenção da governabilidade, diante da perspectiva de que ela vá pelo ralo em meio ao impasse político, prejudicando ou embaçando as iniciativas que ele deseja apresentar à Paraíba no seu batismo de fogo como governante e político. O clima é tenso, mas o governo tem procurado passar a impressão de que ainda tem bala na agulha para jogar pesado contra os opositores do projeto que teria mudado radicalmente práticas administrativas no Estado, conforme o discurso reiterado à exaustão nas hostes palacianas.
Nonato Guedes