O presidente da Assembleia Legislativa da Paraíba, deputado Adriano Galdino (PSB), está cogitando prestar uma homenagem post-mortem a dom José Maria Pires, que foi arcebispo metropolitano da Paraíba durante 30 anos, aproveitando o ensejo da celebração do centenário de nascimento do prelado falecido em 2017 aos 98 anos. Dom José era natural de Córregos, Minas Gerais, onde nasceu a 15 de março de 1919e foi vítima de problemas respiratórios que o levaram a ser internado em hospital da Unimed em Belo Horizonte, onde não resistiu à gravidade da enfermidade. Foi sepultado com honras em João Pessoa, onde desenvolveu uma atuação marcante, especialmente no enfrentamento da ditadura militar de 1964.
A homenagem da Assembleia Legislativa seria na forma de outorga post-mortem do título de Cidadão Paraibano a dom José, alvo de muitas controvérsias diante das suas atitudes combativas contra arbitrariedades do regime militar de 1964. Por duas vezes a concessão do título foi proposta na Casa de Epitácio Pessoa, mas a outorga nunca se concretizou. Na primeira vez, uma comissão de deputados pediu para ler com antecedência o discurso que o bispo faria na tribuna, alegando tratar-se de recomendação de oficiais do Grupamento de Engenharia. Dom Pelé, como era conhecido também, recuou a censura prévia e o recebimento do diploma, alegando que já se considerava paraibano por adoção.
Posteriormente, na redemocratização, dom José foi novamente procurado para ser agraciado, desta feita assegurada a liberdade de expressão, mas o evento não se realizou. Em livros, depoimentos e entrevistas que deixou, dom José alude aos episódios, mas tenta ser tolerante e compreensivo em relação às posições de deputados que apoiavam o chamado golpe militar. Na sua chegada procedente de Minas Gerais, em 1966, ele fez uma visita oficial à Assembleia Legislativa, assim como ao Tribunal de Justiça do Estado e procurou cultivar relações amistosas, embora firmes, com governadores como João Agripino Filho, Tarcísio Burity, entre outros. Burity o acompanhou a Alagamar para decretar a soltura de duas freiras holandesas que estavam em poder de policiais militares do Estado por causa da solidariedade a trabalhadores rurais.
O presidente Adriano Galdino pondera que a Assembleia Legislativa da Paraíba tem o dever de reparar injustiças cometidas contra dom José e ao mesmo tempo tributar-lhe as homenagens de que se fez merecedor. Galdino não entra no mérito de episódios passados, mas revela que há uma atmosfera propícia para a homenagem post-mortem a dom José, em respeito ao seu legado, inclusive, fundando o primeiro Centro de Defesa dos Direitos Humanos do Brasil, confiado ao advogado Vanderley Caixe. Dom José era bastante ligado a dom Helder Camara, arcebispo de Olinda e Recife e ícone da Igreja progressista no Nordeste brasileiro. O governo paraibano, presidido por João Azevedo (PSB) apoia a iniciativa da ALPB de promover o resgate da memória de dom José, enfatizando a valiosíssima contribuição que ele ofereceu à Paraíba.
Nonato Guedes