Uma conversa definitiva, segunda-feira, entre o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodrigues, definirá se este fica ou não no cargo, depois do fogo cruzado a que tem sido submetido, com denúncias sobre incompetência e bagunça no MEC. A Pasta tem o terceiro maior orçamento da Esplanada e, ontem, Bolsonaro admitiu que há reclamações sobre a atuação do ministério, embora observando que não há restrições pessoais ao ministro. Vélez participou do fórum empresarial Lide, em Campos do Jordão, e informou que não tinha tido conhecimento oficial de nada sobre sua exoneração.
Ele também foi enfático ao revelar que não pedirá demissão: Não vou entregar o cargo. A respeito das críticas que vem sofrendo, perguntado se acreditava que a situação estava insustentável, o ministro disse que a única coisa insustentável é a morte e que a saída para problemas de gestão no Ministério da Educação é racionalidade. Em pouco mais de três meses, houve mais de dez demissões de postos do alto escalão do MEC e órgãos vinculados. Na mudança mais recente, publicada no dia 4, no Diário Oficial da União, o governo exonerou a chefe de gabinete do ministro, Josie Pereira, e o assessor especial Bruno Garschagen.
Em matéria de capa na edição da semana passada, a revista Veja sintetizou que até agora o MEC de Bolsonaro só fez bagunça e não produziu nada de útil. Ali, os projetos estão emperrados, as brigas ideológicas atravancam decisões, as demissões ocorrem em série e a educação, um dos temas mais importantes da agenda nacional, está à deriva. O MEC de Vélez foi transformado na central da anarquia. O ministro está enfraquecido, bombardeado por evangélicos, militares, partidos e vive enredado com os olavetes, cujo mestre é o guru bolsonarista Olavo de Carvalho, que mora na Virgínia, nos Estados Unidos. Vélez está isolado no próprio feudo, detalhou a Veja.
A bagunça já provocou danos concretos. Entre as 15 metas planejadas para a simbólica data dos 100 dias de governo, em 11 de abril, a única que diz respeito à educação é um programa de alfabetização. A revista Veja diz que ao aterrissar no MEC por indicação de Olavo de Carvalho, que enxergou nele potencial de se afinar com o bolsonarismo, Vélez, assustado, confessou em uma reunião: Não tinha a menor ideia de que o ministério era tão grande. Quem convive com ele diz tratar-se de um teórico com senso de humor, afável, mas desastroso, como se deu na famosa entrevista a VEJA na qual afirmou que brasileiro viajando é um canibal. Vários processos ficam acumulados na mesa do ministro sem nenhuma justificativa. Às vezes, sim, por motivos palpáveis.
Um dos motores do atraso do Programa Nacional do Livro Didático é ideológico: um grupo de avaliadores está examinando os livros do segundo ciclo do ensino fundamental, não gostou da primeira leva por conter ideologias contrárias ás do governo e pediu mais tempo para passar o pente-fino, e isso numa gestão que insiste em dizer que queria acabar com o viés ideológico. Os alunos ficarão um ano a mais com a mesma bibliografia desatualizada. A devastação no MEC é assunto amplamente difundido na Esplanada, em Brasília. O Fundeb, principal fundo de financiamento da educação, virou preocupação até para o ministro da Economia, Paulo Guedes. A lei que o regulamenta expira em 2020 e a esta altura já era para o MEC estar capitaneando no Congresso a discussão sobre sua extensão e em que moldes. Guedes tomou as rédeas e contratou uma consultoria para se debruçar sobre o tema.
Diante da iminente demissão do ministro Ricardo Vélez Rodrigues, parlamentares e integrantes da ala militar do governo Jair Bolsonaro deflagraram, nos bastidores, uma disputa para emplacar o substituto na pasta, que é considerada estratégica no organograma do poder. Da ala parlamentar, o senador Izalci Lucas, do PSDB-DF, que assina o projeto Escola sem Partido, é um dos mais cotados para comandar o MEC. O tucano integra a Comissão de Educação do Senado e tem circulado com frequência pelos gabinetes do Planalto. Já o atual presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior e ex-reitor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica, Anderson Correia, conta com o lobby dos militares.
Nonato Guedes