Hoje completa um ano que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está preso, numa cela da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, acusado de tráfico de influência, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Tem sido um ano de batalhas de Lula, dos seus advogados de defesa e dos seus partidários, para conseguir a sua soltura, sob o argumento de que ele não representa nenhuma ameaça para a sociedade e muito menos para o poder público. As tentativas, consecutivas, têm sido inválidas. As instâncias judiciais ainda se dividem sobre a necessidade de oitivas complementares em que o ex-presidente preste esclarecimentos a respeito de casos polêmicos como o do tríplex no Guarujá e do sítio em Atibaia.
Os partidários de Lula prometem grandes mobilizações em várias capitais e cidades brasileiras, de hoje até o dia 12, exigindo uma atitude firme do Supremo Tribunal Federal para rever a continuidade da prisão de Lula, diante do receio de que ele possa mofar na cadeia, por ter sido condenado duas vezes com penas ampliadas. O ex-presidente deixou claro, ainda nos últimos dias, que não aceita a alternativa que tem sido proposta para o cumprimento de prisão domiciliar. Reitera a narrativa de que não cometeu nenhuma ilicitude que justifique sua privação de liberdade e enfatiza que quer se manter de cabeça erguida. Nesse período, Lula deixou a cela da Superintendência da PF para prestar depoimentos e, mais recentemente, por ter sido liberado para ir ao velório de um neto, que morrera precocemente em São Paulo.
O cantor e compositor Chico Buarque de Holanda gravou um vídeo que está sendo reproduzido em redes sociais qualificando de intempestiva e injustificável a manutenção da prisão de Lula da Silva e exortando os eleitores e admiradores do fundador do PT e filiados de outras legendas de esquerda e de oposição ao governo de Jair Bolsonaro a engrossarem o coro pelo Lula Livre. Há indicações, porém, de divergências na chamada frente de oposição e de esquerda quanto à prioridade da mobilização por Lula Livre. Ao mesmo tempo, o Partido dos Trabalhadores debate-se em discussões e reflexões internas sobre o futuro da agremiação sem a presença de Lula no comando.
Na eleição presidencial do ano passado, o líder petista, que governou o Brasil por dois mandatos, tentou viabilizar sua candidatura a presidente da República, mesmo consciente das dificuldades legais que seriam opostas, em virtude da sua condição de condenado pela Justiça. A estratégia, entretanto, foi concebida para pressionar e colocar em xeque-mate o Judiciário brasileiro, que é criticado periodicamente sob alegação de utilizar dois pesos e duas medidas, já que mantém em liberdade políticos como o deputado tucano, ex-senador Aécio Neves, arrolado em ações comprometedoras. O fogo cruzado dos partidários de Lula amainou um pouco diante da decretação da prisão do ex-presidente Michel Temer (MDB), que deixou o cargo há praticamente três meses. Temer já foi solto mas responde a uma variedade de processos e não se descarta a hipótese de voltar a ser encarcerado.
Nonato Guedes