Uma matéria da revista Veja a propósito dos cem primeiros dias do governo Jair Bolsonaro revela que o acompanhamento do que ele e seus filhos, bem como sua equipe, escrevem nas redes sociais, foi mais relevante e, em alguns casos, assustador, do que estar a par dos decretos e portarias publicados no Diário Oficial da União. Animados pelos ótimos resultados obtidos com o uso intensivo das redes na campanha de 2018, Bolsonaro e companhia continuam a digitar freneticamente comentários, anúncios, explicações, desabafos e uma penca de provocações políticas, coisa tão própria do universo digital. É a República dos Tuítes, informa o texto assinado por Fernando Molica, Maria Clara Vieira e Jana Sampaio, na Veja, lembrando que desde que chegou ao Planalto, há pouco mais de três meses, Bolsonaro ultrapassou a marca de 1500 mensagens postadas nas redes um universo em que se fala sem ser interrompido e não se ouve o contraditório.
Desde a posse, em primeiro de janeiro, até a última quarta-feira, três de abril, o presidente, de acordo com a consultoria Bites, assinou 781 posts no Twitter, uma média de 8,39 por dia. O resultado quase dobra quando são somadas as publicações no Facebook e no Instagram um total de 1 524 mensagens, o que dá em média 16,3 textos diários. Veja acrescenta que o presidente brasileiro está longe de ser o único, pois Donald Trump, dos Estados Unidos, e o israelense Benjamin Netanyahu, pares preferenciais, constam entre os governantes que mais tiram partido da comunicação direta, sem intermediações inconvenientes. Por que tanta preferência?, indaga a revista, citando o que diz o professor de comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Marcelo Serpa: Falar sem ser interrompido é tentador para os políticos. Além disso, só ouve o contraditório quem quer. Até agora, a família Bolsonaro não postou um único pedido de desculpas ou o reconhecimento de algum erro ou excesso. O máximo que faz é apagar um post silenciosamente.
Veja mostra que nestes pouco mais de três meses de governo não faltaram atritos nem constrangimentos. Um dos pontos mais baixos foi a postagem pelo presidente, durante o Carnaval, de obscenidades gravadas durante a passagem de um bloco pelo centro de São Paulo. O senador Flávio Bolsonaro, meio ausente do Twitter, depois da revelação das movimentações financeiras suspeitas de um ex-assessor e suas ligações com milícias, cometeu a gafe da semana: reagindo à decisão do Hamas de protestar contra a visita do presidente a Israel, mandou um Quero que vocês se EXPLODAM!!! ao grupo palestino, responsável por longa lista de atentados, inclusive com homens-bomba assunto que não se presta a trocadilhos. No início de março, foi a vez do deputado Eduardo, recordista da família no uso do Twitter, com 1 560 posts neste ano, quase dezessete por dia, extrapolar ao reclamar da permissão para que Lula saísse da prisão e fosse ao velório do neto de sete anos. Só deixa o larápio em voga posando de coitado, escreveu. Colheu protestos até de seguidores e procurou explicar-se: disse apenas que defendeu a igualdade de tratamento entre outros presos e lamentou a morte da criança.
Pelas redes sociais, o vereador Carlos Bolsonaro provocou a maior crise do governo: fritou e demitiu o ministro Gustavo Bebbiano. Para além do âmbito familiar, é ainda no Twitter e no Facebook que o chanceler Ernesto Araújo promove sua diplomacia singularmente heterodoxa e que Olavo de Carvalho, mentor dos novos palacianos, partilha sua desbocada sabedoria: em 1 000 tuítes a partir de 11 de março, foram 107 palavrões. O cientista político Geraldo Tadeu Monteiro, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, diz: Mobilizar as redes sociais em torno de propostas é um jeito de governar típico de quem não tem compromisso com as instituições. Em resumo, assevera a reportagem da Veja, governar é uma coisa, tuitar é outra.
Nonato Guedes