Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, advogado que logo se frustrou na profissão que abraçara, professor apaixonado pelo ensino agrícola. Assim se definiu, num ensaio para o jornal A União em edição alusiva à presença da Paraíba nos 500 anos do Brasil o professor Vicente Nóbrega, pai do jornalista Rubens Nóbrega, que faleceu nos últimos dias, deixando uma lacuna lamentada pelos diferentes círculos sociais e educacionais que conheceram os exemplos do seu histórico, da sua trajetória. Fez, ainda, incursões pelo futebol profissional e pela música, ora como cantor, ora como instrumentista.
Vicente dizia que a paixão pelo ensino agrícola nascera nos idos da segunda metade da década de 40, quando, ainda menino, saiu da cidade de Santa Luzia, no Vale do Sabugy, onde nasceu, para estudar no então Aprendizado Agrícola Vidal de Negreiros, de Bananeiras, antigo Patronato Agrícola, posteriormente Colégio Agrícola instalado no campus IV da Universidade Federal da Paraíba. A instituição fora criada por inspiração do doutor Dulphe Pinheiro Machado, então diretor geral do Serviço de Povoamento do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Tinha por finalidade abrigar crianças pobres, meninos de rua que viviam em promiscuidade, marginalizados, enfim, em completo abandono. A ideia era interná-las em centros agrícolas para transformá-las em jovens agricultores. A princípio, todas as tentativas para abrigar aquelas crianças em estabelecimentos, muitos deles correcionais, não atendiam nem à demanda nem ao objetivo a que se propunham.
Segundo o professor, somente em 1918, quando Venceslau Braz era presidente, um decreto de fevereiro autorizou o Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio a promover a criação de patronatos agrícolas. Nóbrega aportou em Bananeiras em 1945 quando o antigo Patronato dava lugar ao Aprendizado Agrícola. As mudanças de Patronato para Aprendizado foram quase imperceptíveis para a grande maioria do alunado. Aos estudantes registrou ele interessavam mesmo as mudanças que aconteciam semanalmente ou, conforme o caso, até mensalmente, na sua rotina de trabalho (atividade extra-classe, de cunho pedagógico, embora só com o passar dos anos o ex-aluno viera realmente a aceitá-la como tal). Era, no dizer de Vicente Nóbrega, um regime tipicamente militarizado, a partir do toque estridente de uma corneta às cinco horas da manhã, soando no imenso dormitório e acordando todo mundo.
O Aprendizado, enquanto instituição de ensino eminentemente prático, oferecia a sua área de campo para a realização de práticas agropecuárias, que obedeciam a uma metodologia baseada na força de trabalho representada pelos alunos, sempre acompanhados por um encarregado de serviço ou um capataz. O aprendizado era complementado em oficinas de apoio às atividades agropecuárias. Com a denominação Escola Agrotécnica Vidal de Negreiros foi incluído o ensino de segundo grau, conferindo aos que ali concluíam os seus estudos o título de técnico em agricultura. Com o advento da Escola Agrotécnica, muita coisa mudou. Com ela, vieram significativas alterações não apenas no que se referia ao currículo com a oferta de ensino médio profissionalizante. As mudanças foram sentidas, especialmente, no seio do alunado, com repercussão até nas cidades adjacentes a Bananeiras e Solânea. O aluno formado pela então Escola Agrotécnica conquistou maior respeito nas sociedades locais. O técnico agrícola formado estava menos distante do chamado doutor agrônomo do que o mestre agrícola formado pelo antigo Aprendizado.
O corpo docente da nova instituição recebeu o concurso de outros professores, que trouxeram experiências e metodologias de ensino mais avançadas. Com isso, cresceu a motivação entre os estudantes, refletindo-se não só em melhoria do rendimento escolar como também no despertar de uma consciência para as responsabilidades maiores de cada um após a formatura. Poderia dizer descreveu Vicente Nóbrega que o Aprendizado Agrícola nos deu uma excelente capacitação técnica, compatível com o nível de informação ali ministrado e a Escola aperfeiçoou esses ensinamentos e cuidou, também, da cidadania e capacitação profissional. O regime militarizado deu lugar a uma convivência mais estreita entre os alunos, dirigentes, professores e funcionários. Havia as Semanas Ruralistas, com a realização de palestras e cursos ministrados pelos mais abalizados professores da área. Os agricultores da região tinham a oportunidade de acesso a novas tecnologias e técnicas mais modernas de manejo animal e de máquina agrícola. Quero deixar bem patente a minha paixão pelo ensino agrícola de qualidade, concluiu o professor Vicente Nóbrega.
Nonato Guedes