O governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) celebrou, hoje, os cem primeiros dias de gestão marca que passou a ser emblemática para todo governante e garantiu ter cumprido as principais metas elencadas para essa fase em diversos setores. O presidente da República anunciou, ainda, a implantação do pagamento do décimo terceiro salário aos beneficiados pelo programa Bolsa-Família, o que alcança, principalmente, habitantes do Nordeste, onde Bolsonaro não teve grande votação em 2018 devido à influência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, repassada, em parte, para o candidato do PT, Fernando Haddad.
Jair Bolsonaro anunciou, ainda, decreto extinguindo milhares de cargos comissionados na estrutura administrativa da União e alterações nessa estrutura para o seu funcionamento melhor. O ministro chefe da Casa Civil da Presidência, Onyx Lorenzoni, pediu à população mais um pouquinho de paciência, alegando que o governo ainda se encontra em processo de aprendizagem, tomando conhecimento das demandas e respondendo com agilidade possível no encaminhamento de soluções. O Planalto informou que o presidente deflagrou uma operação pente-fino em órgãos de deliberação que são custeados pela União.
O governo completa os cem primeiros dias ainda empenhado num esforço sobre-humano para aprovar no Congresso a reforma da Previdência Social, tida como a mãe de todas as reformas. Para analistas políticos independentes, a gestão de Bolsonaro desperdiçou tempo com questões que são consideradas irrelevantes para a população, bem como com brigas desnecessárias. Nesse período dois ministros foram exonerados: Gustavo Bebianno, da Secreetaria-Geral da Presidência, que teria entrado em rota de colisão com o Planalto, e Ricardo Vélez, da Educação, que tumultuou a Pasta e gerou um pandemônio no setor educacional. Adversários políticos de Bolsonaro na disputa presidencial de 2018 criticaram o desempenho do governo nos primeiros dias, considerando-o pífio, no dizer, por exemplo, de Ciro Gomes, do PDT, e Fernando Haddad, do PT.
Os cem primeiros dias foram pontuados por recuos do governo em medidas anunciadas com urgência através de redes sociais o instrumento favorito de Bolsonaro para se dirigir à sociedade. Parlamentares da base oficial de sustentação do governo também insistiram na necessidade de uma trégua para que Bolsonaro consiga levar adiante reformas imprescindíveis. Jair Messias Bolsonaro, que era deputado federal pelo Rio de Janeiro e é capitão reformado do Exército, foi ungido nas urnas com 58 milhões de votos, tornando-se um fenômeno dada a sua condição de outsider na política. Uma reclamação constante feita a respeito do governo trata da interferência dos filhos de Bolsonaro, que exercem mandatos eletivos e fazem intrigas nos ambientes palacianos, queimando ministros e auxiliares do governo.
De acordo com levantamento da revista Veja, a lua de mel da sociedade com o governo foi mais curta que o normal. Entre janeiro e março, a parcela de brasileiros que avaliavam o governo como ótimo ou bom encolheu de 58% para 30%. A perda de apoio também se manifestou no aumento de eleitores que consideravam o governo regular e passaram a classificá-lo como ruim ou péssimo. No cômputo geral, estima-se que cerca de 15 milhões de pessoas que votaram em Bolsonaro deixaram de avaliar seu governo de maneira positiva. Este é o resultado de um estudo feito, a pedido de Veja, pela consultoria de pesquisa Ideia Big Data. A maioria dos desiludidos está na classe média, fragilizada pela crise econômica.
Nonato Guedes