Evidente que a repercussão maior na mídia paraibana nas últimas horas foi monopolizada pelas exonerações de mais secretários do governo estadual, arrolados na Operação Calvário, que ainda promete desdobramentos imprevisíveis mas seguramente de forte impacto. No entanto, o fato revelador da máquina de corrupção que infelicita a Paraíba em diferentes esferas, nos últimos anos, foi o destrinchamento do esquema montado na cidade portuária de Cabedelo, conforme a delação do ex-prefeito Wellington (Leto) Viana, que está preso, e que foi prestada em abril mas somente agora publicizada pelos órgãos de investigação que cuidam da chamada Operação Xeque-Mate.
Os fatos estarrecedores e comprometedores enunciados pelo ex-prefeito Leto Viana, envolvendo gestores, agentes públicos, vereadores, empresários, radialista, traduzem a sofisticação a que chegou a criminalidade na política e na gestão da coisa pública em nosso Estado, como reflexo da escalada nacional que pôs na prisão, ainda hoje, um ex-presidente da República (Luiz Inácio Lula da Silva), o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, ex-governadores do Estado do Rio (Sérgio Cabral como recordista das falcatruas), ex-ministros dos governos petistas como Antonio Palocci e José Dirceu, além da imputação de culpa ao ex-presidenciável tucano Aécio Neves, a dois outros ex-presidenciáveis do PSDB e a um operador financeiro do ninho tucano, o Paulo Preto.
Aparentemente quase ninguém, que tenha tido expressão política no cenário nacional nas décadas mais recentes, está incólume diante dessa onda desmoralizadora que tomou conta da vida pública no país. Pois o próprio ex-presidente Michel Temer (MDB), que se investiu no cargo com o impeachment da petista Dilma Rousseff e que deixou o poder há pelo menos três meses, já adentrou na quota que lhe é reservada dentro do calvário a que políticos estão sendo submetidos por desvios de recursos, negociatas de toda ordem, vantagens e enriquecimento ilícito. Já faz muito tempo do ponto de vista da relatividade do calendário histórico que o apresentador de telejornal Boris Casoy erigia o bordão Isto é uma Vergonha no encerramento do noticioso que lhe cabia tocar para conhecimento dos telespectadores. A curiosidade é que, de lá para cá, não se tenha criado vergonha na cara na administração pública e na atividade política nacional segmentos que saltaram, com uma facilidade invejável, do noticiário institucional para as páginas policiais.
Cada caso que vai sendo descoberto por autoridades policiais e judiciárias tem, é claro, suas peculiaridades, adaptadas às condições de temperatura, pressão e meio ambiente em que proliferaram. No caso do mensalão nacional petista, para citar um exemplo, o enredo consistia no pagamento de uma mesada a parlamentares da base aliada, o que equivale dizer, também de outros partidos, para que estes votassem favoravelmente a matérias do governo. A mesada era o ponto fora da curva identificado nos autos do processo do mensalão pelo ministro Ayres de Britto. No caso de Cabedelo, a operação de corrupção teve como ponto de partida a venda do mandato de um prefeito, José de Lucena Filho, Luceninha, ao então vice-prefeito Wellington (Leto) Viana, em esquema tripartite que atraiu o bem-sucedido empresário Roberto Santiago, do Manaíra Shopping. Foi feita, em Cabedelo, uma incrível distribuição de renda com repasses a gregos e troianos de certos figurões a humildes agentes públicos, incluídos em folhas de pagamento sem direito a sacar os valores exatos ou integrais, que, como acordado, prestavam-se a irrigar outros canais de corrupção, espécie de dutos complementares da sofisticada máquina de moer o dinheiro público.
O que chama a atenção, em todo esse corolário de escândalos, é que mesmo com prisões efetuadas, com condenações pesadas atribuídas por juízes ou magistrados, a escalada do roubo, do saque ao patrimônio público, não dá sinais de cessar. O que muda é a metodologia, que só pode ter sido aprimorada no submundo do crime organizado, das facções treinadas que de dentro de presídios de suposta segurança máxima ordenam e comandam investidas permanentes, como se fizessem parte de estratégia para reposição de recursos eventualmente recuperados por autoridades policiais e judiciárias para o destino natural, que seria o erário. Ah, havia partidos que se escudavam em ideologias de esquerda, como PT e PSB, para legitimarem o assalto aos cofres públicos, em nome de supostos projetos de interesse público que constituem, na verdade, projetos de ambição de saltimbancos que se valem da demagogia para ferir de morte a ética e a cidadania no Brasil. Esta é a triste realidade!
Nonato Guedes