A ex-senadora Heloísa Helena, que veio hoje a João Pessoa para uma palestra no auditório João Eudes da Assembleia Legislativa, versando sobre formação política, é filiada atualmente ao Rede Sustentabilidade e foi expulsa do Partido dos Trabalhadores, em dezembro de 2003, no primeiro ano do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, por votar contra a proposta de reforma da Previdência. Em 2010, Heloísa Helena, natural de Alagoas, foi a terceira mulher a receber mais votos na corrida para presidente da República, ficando abaixo de Marina Silva e de Dilma Rousseff, esta vitoriosa pelo PT com o apoio decisivo de Lula da Silva. Em 98, HH fora eleita senadora por seu Estado com a maior votação já alcançada na história política local.
Expulsa do PT, ela participou da fundação do PSOL e, depois, migrou para o Rede Sustentabilidade. Heloísa Helena aceitou um convite formulado pelo deputado Chió, de primeiro mandato, e, numa entrevista às 13h à rádio Arapuan lembrou que a reforma da Previdência continua em pauta, por iniciativa do governo do presidente Jair Bolsonaro, do PSL, e que se mantém contrária por entender que não corresponde às expectativas da classe trabalhadora. Até 2016, HH exercia mandato de vereador na Câmara Municipal de Maceió. Ela afirmou em João Pessoa que nem os governos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Luiz Inácio Lula da Silva-Dilma Rousseff (PT) e nem o de Jair Bolsonaro, atual, demonstraram compromisso com uma reforma previdenciária nos moldes do que reivindica a parcela majoritária da sociedade, o que considera lamentável.
Em 10 de dezembro de 2003, depois de tramitar por 225 dias, a reforma da Previdência proposta pelo governo Lula foi finalmente aprovada no Senado. Obteve 51 votos favoráveis e 24 contrários, entre os quais o da senadora petista Heloísa Helena. Eram necessários 49 votos para a obtenção do quórum constitucional e o governo Lula contou com preciosas doze adesões da oposição sete do PFL e cinco do PSDB, sem os quais não venceria, pois os partidos da base haviam rachado novamente. Um episódio bizarro marcaria a sessão: o senador Ney Suassuna, do PMDB da Paraíba, mais conhecido pela exibição de extravagantes gravatas do que pela atuação parlamentar votara contra, segundo ele, por equívoco. Era a favor, mas se atrapalhara no complexo instante de escolher entre as alternativas sim e não, segundo relata o historiador Marco Antonio Villa no livro Década Perdida Dez anos de PT no poder.
No dia 14 o diretório nacional do PT, com 55 votos a favor e 27 contra, expulsou três deputados federais que votaram contra a reforma Luciana Genro, Babá e João Fontes, além da senadora Heloísa Helena. Alguns petistas, como a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, optariam por não comparecer à reunião. Os mais aguerridos defensores da expulsão e que discursaram no encontro foram os senadores Aloízio Mercadante, Ideli Salvatti e Cristovam Buarque e os deputados Carlos Abicalil e Paulo Delgado. A direção partidária exultou. O secretário de Organização, Sílvio Pereira, que dois anos depois ficaria notabilizado pelo presente recebido de uma construtora, um jipe Land Rover, disse que o confronto com os radicais era inevitável caso não mudassem sua prática e discurso. A reunião do diretório nacional ocorreu no luxuoso hotel Blue Tree Park, em Brasília. Já ia longe o tempo de reuniões em sindicatos e auditórios improvisados. Em 2003, o PT era poder e gozava amplamente desse privilégio, narrou Villa em Década Perdida.
Nonato Guedes