Primeiro prefeito de João Pessoa pelo voto direto no pós-ditadura militar, o médico Antônio Carneiro Arnaud mantém-se como espectador político enquanto se dedica, integralmente, a atividades que sua profissão requer, empenhando-se de forma ativa na luta por recursos para a Fundação Napoleão Laureano, numa cruzada meritória que atende portadores de câncer, especialmente oriundos de camadas mais carentes da população. Carneiro vale-se do trânsito que construiu na seara política para mobilizar senadores, deputados federais e estaduais e outras lideranças com poder, com vistas a destinar recursos para as instituições que cuidam do segmento. A investida se dá junto a parlamentares de diferentes partidos, que, segundo Carneiro, têm sido receptivos, em regra, às demandas contínuas.
Ex-deputado federal e descendente de uma família com tradição política, cujo nome mais emblemático é o do ex-senador Ruy Carneiro, ele não esconde a honra de ter administrado a Capital paraibana, malgrado as dificuldades conjunturais com que se deparou, incluindo ameaças de paralisação de transportes coletivos que levaram o então governador Tarcísio Burity a decretar uma intervenção branca, diante do impasse sobre reajuste de tarifas, através da criação emergencial de uma estatal, Setusa, que durou enquanto durou a gestão Burity. A restauração das eleições diretas nas Capitais se deu através de mensagem encaminhada ao Congresso pelo presidente José Sarney, que assumira com a morte de Tancredo Neves, eleito no Colégio Eleitoral no último pleito presidencial indireto no país.
Carneiro concorreu à prefeitura de João Pessoa dentro de um chamado acordão com o esquema político liderado pelo então governador Wilson Leite Braga (PDS-PFL), que indicou o já falecido vereador Cabral Batista como vice da chapa denominada Aliança Democrática uma reedição minúscula da aliança nacional que atraiu a dissidência do PDS para o leito da candidatura de Tancredo contra a imposição de Paulo Maluf pelo regime militar, já vivendo seus estertores. O principal adversário de Carneiro foi o ex-deputado Marcus Odilon Ribeiro Coutinho, que fora prefeito de Santa Rita e tinha o apoio do então deputado federal Tarcísio Burity, disputando pelo PTB. Odilon tinha assegurada maioria em convenção do PMDB para ser ungido candidato, mas o principal dirigente do partido, senador Humberto Lucena, inclinava-se pela composição com o braguismo, embalado por acenos de Wilson Braga sobre desdobramento do acordão a nível estadual em 86, com o lançamento de Humberto para governador e ele, Braga, ao Senado.
A composição ensaiada vingou apenas para as eleições de 85, das quais Carneiro emergiu com uma diferença apreciável – cerca de 10 mil votos, que os adversários qualificaram como vitória de Pirro diante da estrutura acionada a favor da chapa: o apoio de um governador, 171 prefeitos, dois senadores, onze deputados federais e 35 deputados estaduais, contra apenas um deputado federal, um deputado estadual e quatro vereadores conforme observação feita por Antônio Augusto Arroxelas, que era partidário do candidato derrotado Marcus Odilon. O então vereador Genivaldo Fausto, por sua vez, atribuía a vitória da chapa Carneiro-Cabral nas eleições de 18 de novembro a uma resposta do eleitorado às agressões sofridas pelos candidatos da Aliança Democrática. Carneiro Arnaud sucedeu na prefeitura a Oswaldo Trigueiro, que saíra desgastado por causa de denúncias veiculadas pelo jornal Correio da Paraíba sobre transações irregulares na aquisição de caçambas destinadas ao serviço de coleta do lixo em João Pessoa.
Carneiro, no discurso feito na Câmara Municipal para prestar contas, lembrou que estava assumindo uma edilidade repleta de problemas, decorrentes da grave situação econômica do país e do grande número de funcionários contratados, o que ameaçava inviabilizar a governabilidade. Por sugestão de auxiliares como o secretário do Planejamento, Francisco Barreto, o prefeito acabou demitindo um contingente expressivo de servidores, o que gerou desgaste, embora Carneiro deixasse claro que era a única alternativa, naquelas circunstâncias, para fazer face ao descalabro que, conforme ele, reinava. Político de formação moderada, Carneiro cultiva o estilo pessedista de não se indispor com antecessores ou sucessores. Mantém-se informado acerca do cenário político paraibano e, principalmente, o de João Pessoa, mas, agora, como admite, numa posição privilegiada, de quem não tem obrigação de se envolver em missões desgastantes nem voltar a palanques. De um modo geral, avalia que os avanços das gestões que o sucederam são inegáveis, embora ainda haja muito a ser feito para equipar João Pessoa para os desafios contemporâneos.
Nonato Guedes