A primeira mobilização nacional contra o governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) está prevista para hoje em 26 Estados e no Distrito Federal, quando professores, alunos e funcionários de universidades públicas federais farão atos de protesto contra os cortes no orçamento das instituições de ensino superior, bem como contra o desprezo da atual gestão ao ensino. Reitores de diferentes universidades queixam-se que os cortes levarão ao colapso no funcionamento das instituições, tal como se dará na Universidade Federal da Paraíba, conforme a dirigente Margareth Diniz. No Dia D dos protestos, o ministro Abraham Weintraub irá à Comissão de Educação da Câmara Federal para prestar esclarecimentos.
Ele já fora sabatinado por senadores no último dia 7 sobre o vultoso corte de verbas e reagiu com mordacidade. É sacrossanto o orçamento? Não podem economizar nenhuma migalha?, perguntou, para em seguida assoprar: Tudo vai depender do andar da economia. Talvez nem haja cortes. O problema é que o governo Bolsonaro emite sinais evidentes do propósito de desmontar o ensino superior a pretexto de privilegiar a educação básica. Como pano de fundo dos protestos, o contingenciamento, ou seja, congelamento até segunda ordem, de 30% dos recursos destinados ao custeio das 63 universidades sob a guarda do Ministério da Educação, neste ano. Em meio à radicalização, o ministro Weintraub comete gafes. Disse que o maior quinhão da pesquisa nacional vem das universidades particulares quando, na verdade, 95% dela se dá nas universidades públicas sob sua administração.
A tesoura oficial chegou à pós-graduação na quarta-feira, dia 8, suscitando apreensão adicional. Como relatou a revista Veja, as paulistas USP, Unicamp e Unesp descobriram sem aviso prévio que bolsas a serem preenchidas por novos alunos de mestrado e doutorado não estavam mais disponíveis. Essas vagas foram liberadas por estudantes que concluíram seus cursos em 2018 e, pela lógica, iriam para outros candidatos em 2019, mas foram enquadradas como ociosas pela Capes, que repassa os recursos para pesquisa. Em uníssono, os reitores asseguram que se houver mesmo um derretimento de recursos no segundo semestre as universidades passarão a operar abaixo da linha da dignidade. Terão menos material para pesquisa e ficarão à míngua para pagar até água e luz. O risco de não conseguirem abrir as portas é real, alerta Reinaldo Centoducatte, reitor da Federal do Espírito Santo e presidente da Andifes, associação que congrega dirigentes de instituições federais de ensino superior.
Márcia Abrahão, reitora da Universidade de Brasília, adverte que se o bloqueio for adiante, afetará, de imediato, um edital de bolsas de monitoria que ela planejava lançar para o segundo semestre. Justifica que já fez cortes de mais de 50% em contratos, o que exigiu um enorme esforço da comunidade. Instalamos painéis solares e diminuímos as contas de água e luz. Nos meus cálculos, neste momento não dá para ter mais sacrifício, arrematou. Em Minas Gerais, a reitora da Universidade Federal, Sandra Goulart Almeida, mencionou que é imenso o impacto dos cortes e não afeta apenas a instituição mas a população em geral. Projetos de desenvolvimento regional ficam comprometidos, conforme ela, citando dois: um que presta ajuda às comunidades de Brumadinho e Mariana e outro que pesquisa o controle de transmissão dos vírus da dengue, zika e chikungunya.
Nonato Guedes, com agências