Até as pedras sabiam que mais cedo ou mais tarde alguém com o sobrenome Bolsonaro que não fosse o atual presidente da República seria pego no contrapé em meio a denúncias de transações nebulosas. Pois bem! Os fatos estão chegando no senador Flávio Bolsonaro, com gravidade comprometedora para a estabilidade do governo, embora episódios envolvendo Carlos Bolsonaro, o vereador pelo Rio que dá mais expediente no Planalto do que na Câmara, até agora tenham redundado em pizza. Uma peculiaridade desse governo é subestimar escândalos que ele mesmo produz. A outra peculiaridade é subestimar, quando não insultar, a opinião pública, tal como se verificou, da parte do presidente, ao tentar desqualificar a gigantesca manifestação de protesto do 15 de maio de 2019.
A narrativa em Brasília se alimenta de versões variadas em tom especulativo sobre consequências que poderão advir, a exemplo do provável impeachment de Jair Bolsonaro. Os próprios expoentes do poder cuidam de dar munição a essas especulações, emitindo declarações enigmáticas que mais confundem do que esclarecem (o governo, aliás, desde o início, não tem sido propriamente um primor de transparência, salvo quando se trata de apontar malfeitos da Era petista, de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Roussef). Há espaço, é claro, para teorias conspiratórias. Numa matéria publicada no Youtube, o vereador Carlos Bolsonaro afirmou que o que está por vir pode derrubar o capitão eleito, referindo-se ao seu pai.
Ele não entrou em detalhes sobre as motivações passíveis de ocasionar a queda do seu pai, mas relatou que o pai-presidente está diante de uma enorme pressão, de um lado com o Centrão, que faz chantagem para arrancar concessões de um governo que não quer dar nada aos parlamentares, de outro com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, do Democratas, considerado um insubmisso pelo Palácio do Planalto. Carlos Bolsonaro destacou como exemplo a Medida provisória número 870, que reorganizou os ministérios e toda a estrutura de governo e que se vence no dia três de junho. Se essa MP não for votada até o dia três de junho, o presidente Bolsonaro perde toda a estrutura de seu governo e terá que governar com a estrutura do ex-presidente Michel Temer, acentuou, apocalíptico.
A escalada de fatos produzida a partir de Brasília reflete demonstração inequívoca de que Bolsonaro não está minimamente preparado para governar o País. Suas ideias são dispersas, genéricas, não se apoiam em fundamentos concretos ou em bases lógicas de viabilidade ou de sustentabilidade. Ao mesmo tempo, prisioneiro de uma mentalidade autocrática, imperial, o presidente tenta impor sua vontade, seus propósitos, suas concepções, na marra, já que não dialoga com ninguém. A pretexto de erradicar privilégios e outros quistos de favorecimentos oriundos da Era PT incorre em medidas condenáveis, que apontam na direção do atraso, como ocorre com a desorganização aplicada ao ensino superior a pretexto de punir universidades federais mediante o contingenciamento de recursos que é um eufemismo de cortes ou restrições, não assumido pelo atual governo.
É inédito que um presidente esteja só em menos de seis meses de governo. Os que apoiam Bolsonaro agem como autômatos via de regra, foram eleitores que sufragaram seu nome e lutam com unhas e dentes para impedir o retorno do Partido dos Trabalhadores aos quadros de poder. Nesse cipoal também há os inocentes úteis, que ainda acreditam piamente na capacidade do presidente de articular soluções racionais para desafios históricos que movem esta Nação. Parcelas cada vez mais crescentes da sociedade, todavia, exercem a consciência crítica e batem forte nos pontos vulneráveis do governo que está aí. A insatisfação contamina figuras de proa da equipe recrutada por Bolsonaro. O vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, é uma constante voz discordante ou destoante dentro da gestão. Por isso é acusado de golpista. Ainda embriagado pelo deslumbramento, o presidente recusa-se a fazer uma autocrítica e a corrigir rumos do governo que reconhecidamente estão errados, para não dizer desastrosos.
Bolsonaro é candidato a se tornar o presidente mais fugaz da história do Brasil, se não tiver coragem para fazer as mudanças e correções que tem que fazer!
Nonato Guedes