Uma reportagem da revista Veja, na sua última edição, sobre as milícias digitais que trabalham a todo vapor para defender o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e seu governo, inclusive, degradando o debate público no país e até falsificando conversas de WhatsApp de figuras proeminentes do poder, destaca o paraibano Tercio Arnaud Thomaz, de 31 anos, natural de Campina Grande, originário de uma família pobre, que atua como assessor especial no Palácio do Planalto, ganhando R$ 13 600 reais por mês e gozando da confiança do presidente e, também, do seu filho, o pit bull Carlos, articulador da comunicação presidencial no Twitter.
Tercio trabalha juntamente com outro jovem militante José Matheus Salles Gomes, de 26 anos, natural de Fortaleza, no Ceará, também proveniente de uma família de baixa renda. O jovem era o responsável pelo perfil Bolsonaro Zuero 3.0 e atribui-se a ele o hiperbólico epíteto com que os admiradores chamam o presidente: mito. A criatividade na produção de memes rendeu a Matheus até um convite para ser roteirista do programa do humorista Danilo Gentil, mas ele preferiu seguir o vereador pelo Rio Carlos Bolsonaro. Trabalhou no gabinete do Zero Dois na Câmara de Vereadores do Rio, administrando perfis on-line. Tercio e Matheus surgiram no núcleo bolsonarista em 2013. Conforme a Veja, à época Carlos Bolsonaro procurava estabelecer contato na internet com pessoas que mantinham perfis de apoio ao pai no Facebook e chegou a Matheus. Os militantes digitais incrustados no governo gastam o dia trabalhando em celulares e computadores. Tercio e Matheus são hábeis administradores de uma gama de perfis falsos que desferem ataques contra desafetos da família Bolsonaro.
Tercio administrava no Facebook a página Bolsonaro Opressor 2.0. O primeiro contato dele com o político de sua admiração foi intermediado por outro militante das redes, o agora deputado estadual paulista Gil Diniz, conhecido como Carteiro Reaça. O paraibano chorou ao receber um telefonema do capitão. Bolsonaro gostou tanto de Tercio que decidiu contratá-lo para o seu gabinete em 2017, quando era deputado federal. Tercio também passou um período no gabinete de Carlos. Esteve junto de Jair Bolsonaro em momentos decisivos da construção da candidatura presidencial, como o primeiro encontro de Bolsonaro com o hoje ministro da Economia, Paulo Guedes. Quando um convidado questionou a equipe presidencial sobre o garoto quieto no canto da sala ouviu a resposta clássica: Ele é o rapaz das redes. Tercio consolidou o estilo de comunicação desleixado que se tornou marca do futuro presidente.
São dele as imagens de Bolsonaro cortando o cabelo, sacando dinheiro no banco ou comendo pão com leite condensado numa mesa sem toalha. Hoje, cabe a Tercio operar as lives que o presidente transmite em sua página no Facebook. Funcionários do Planalto dizem que Tercio e Matheus são tímidos, quase não abrem a boca e morrem de medo do Carlos Bolsonaro. Matheus é um cara de pavio curto. Tercio é mais mocorongo. Sempre que tem uma sacanagem para fazer com alguém da esquerda ou um ataque a um adversário, são eles que inventam, diz um aliado de longa data do clã Bolsonaro. A rede das milícias digitais é ampla inclui assessores palacianos, sites governistas, youtubers, a multidão de seguidores mais radicais de Bolsonaro e robôs, algoritmos da internet que, sobretudo no Twitter, catapultam hashtags e tuítes para torna-los virais.
Nonato Guedes