O deputado federal paraibano Aguinaldo Ribeiro, do Partido Progressista, que exerce cargo de liderança do governo do presidente Jair Bolsonaro é apontado como um dos responsáveis por sucessivas derrotas do bloco situacionista na Câmara, juntamente com o deputado federal Arthur Lira, também do PP, mas expoente da bancada de Alagoas. De acordo com nota divulgada pelo colunista Fernando Molica, em Radar, na Veja, Lira e Aguinaldo estão sendo chamados, até pela oposição, de dupla dinâmica. O deputado paraibano é irmão da senadora Daniella Ribeiro, foi ministro das Cidades no governo de Dilma Rousseff (PT) e líder do governo do ex-presidente Michel Temer (MDB).
A articulação política do governo de Bolsonaro no Congresso é considerada desastrosa, mas fontes de Brasília atribuem responsabilidade maior ao próprio governo, que tem recuado com frequência em suas decisões e não dialoga positivamente com a classe política. A atuação de Elmar Nascimento, líder do Democratas na Câmara, por exemplo, também tem gerado reclamações do pessoal do partido que tem cargos no Planalto. Ligado ao presidente da Casa, Rodrigo Maia (RJ), o deputado baiano é visto como articulador de algumas derrotas e sua fritura estaria em curso, conforme, ainda, a coluna Radar, da Veja.
A derrota mais espetacular do governo Bolsonaro deu-se na semana passada com a convocação do ministro Abraham Weintraub para prestar esclarecimentos sobre o congelamento de gastos na área da Educação. Enquanto o ministro falava no plenário da Câmara, manifestantes foram às ruas em mais de duzentas cidades para protestar contra o bloqueio de verbas que atingiu universidades federais, na primeira grande mobilização popular contra o governo de Bolsonaro. Para piorar o inferno astral do presidente, a Justiça decretou a quebra dos sigilos bancário e fiscal do senador Flávio Bolsonaro, suspeito de lavar dinheiro por meio de transações imobiliárias e de reter parte dos salários dos funcionários de seu gabinete quando dava expediente como deputado estadual no Rio de Janeiro. O presidente Bolsonaro, que se encontrava em Dallas, Estados Unidos, quando das manifestações de protesto, tentou desqualificar a mobilização popular chamando os manifestantes de idiotas.
A situação se complicou com o resultado de pesquisas de institutos, demonstrando que a aprovação ao governo do capitão reformado caiu de 49% para 35% em apenas quatro meses. Foi o que indicou o mais recente levantamento do Ibope, acrescentando que a reprovação saltou de 11% para 27%. Em termos concretos, é bastante crítica a posição do governo em termos de apoio no Congresso Nacional, o que cria a expectativa de derrota de projetos considerados indispensáveis como o da reforma da Previdência Social. A bancada governista, hoje, conta com o apoio oficial do PSL, o partido do presidente, e informal do Novo, que juntos têm 62 dos 513 deputados. A aprovação da reforma da Previdência exige votos favoráveis de pelo menos 308 deputados. Os articuladores políticos do governo produziram até agora mais confusão do que acordos, observa a revista Veja em matéria sobre o descontrole político.
A própria história da convocação do ministro da Educação para ir à Câmara seria ilustrativa da debilidade da articulação política do governo Bolsonaro. A ideia de cobrar explicações de Weintraub, por exemplo, partiu do PCdoB, que tem apenas oito deputados. O chamado Centrão, um agrupamento de legendas conhecido por mercadejar seu apoio aos presidentes de plantão, aderiu de pronto à ideia, juntamente com siglas consideradas independentes. O resultado foi uma senhora surra: o plenário aprovou a convocação por 307 votos a 82. Bolsonaro até tentou evitar o pior, recebendo no Planalto os líderes de partidos nanicos. No encontro, ouviu questionamentos sobre o bloqueio do orçamento da Educação e foi aconselhado a adiar a medida para o segundo semestre.
Nonato Guedes