Sinceramente, como diria Nelson Rodrigues, o Anjo Pornográfico, a situação para o presidente Jair Messias Bolsonaro é tão negativa que em breve não lhe restará outra alternativa senão sentar no meio fio e chorar. Todos sabemos que o Messias, do sobrenome do mandatário, foi hostilizado em capitais importantes dos Estados Unidos e duramente atacado por prefeitos e governadores de Estados que pretendia visitar a pretexto de receber homenagens sem que essas homenagens parecessem plausíveis, salvo se fossem uma retribuição pela vassalagem do governante brasileiro ao presidente Donald Trump, a quem só faltou se ajoelhar aos pés da lareira, durante aquela conversa vapt-vupt travada na Casa Branca.
Tudo bem que no exterior o ibope de Bolsonaro não esteja em alta quase em lugar nenhum, exceto em Israel, onde ele logrou construir uma simbiose com o primeiro-ministro Netanyahu, que virou figurinha carimbada por um tempo em fins de semana na orla marítima do Rio de Janeiro, tal como em priscas eras aconteceu com Brigitte Bardot quando acampou em Búzios, com a diferença de que La Bardot, desculpem, era La Bardot, a Mulher que Deus Criou. Já o capitão…Para não sermos completamente injustos, foi alvo de alguns rapapés nos Estados Unidos, especialmente em Washington, no beija-mão a Trump. Era o mínimo, por tanta sabujice. Quanto ao Nordeste, começam a ser içadas na web as bandeiras #CancelaBolsonaro, num alerta preventivo de que se trata de persona non grata e melhor é não vir na sexta-feira, como está agendado para Pernambuco.
Ninguém vai ser ingênuo a ponto de ignorar que por trás da orquestração hostil ao capitão reformado há uma estratégia política adrede esculpida por cérebros do Partido dos Trabalhadores, que ainda procuram gastar os últimos quinhões do capital amealhado pela legenda nas últimas eleições presidenciais em que o candidato outsider vitorioso foi flagelado no segundo turno em matéria de votos nesta Região que ele não conhece e pela qual não demonstra morrer de amores, senão em termos retóricos e demagógicos. Em nome do bom senso, seria recomendável que ele fosse bem recebido em função do Plano de Desenvolvimento Regional que promete lançar com pompa e circunstância, favorecendo famílias carentes e supostamente contribuindo para a redução das históricas desigualdades inter-regionais que assolam esta área tal como a seca castiga e calcina zonas que poderiam ser férteis, pródigas, produtivas.
Mas é preciso dizer, também, que ainda que tenham inspiração do lulopetismo (não se descarte a hipótese do ex-ministro José Dirceu ter feito trabalho de campo por aqui antes de retornar à prisão, desta feita em Curitiba onde divide cela com Eduardo Cunha ironia, hein?) as manifestações de descontentamento com o governo do presidente Jair Bolsonaro agregam bolsonaristas de carteirinha, aquela turma que ficou hipnotizada pelo Mito, que, como também estamos fartos de saber, tinha pés de barro e nenhuma ideia na cabeça (saudades de Gláuber Rocha). Bolsonaro está ciente de tudo que cerca o seu governo em termos de energias negativas, geradas pela desarticulação da gestão, pelos recuos em série, pelos acenos autoritários, por recaídas golpistas e janistas, enfim, pela sarabanda patética a que aludi por várias vezes em epígrafes ou exegeses sobre seu governo e que não dá sinais de cessar por uma razão muito simples: este governo padece de vícios de origem, que não são deletáveis ou removíveis de uma hora para outra.
Pelo enredo que já se esboça, vias redes sociais, o instrumento que Bolsonaro hipervalorizou para assegurar a sua vitória contra Fernando Haddad e outros postulantes menos cotados, não há clima para festas. Nem poderia. A conjuntura no Nordeste está de vaca desconhecer bezerro. Se não chega a haver propriamente uma atmosfera de velório, há como diria o magistral Odorico Paraguaçu uma deceptude generalizada com o governo. Bolsonaro, em relação ao Nordeste, sofre da síndrome do culto a Lula, que exatamente em termos de Nordeste é compreensível, pelas raízes do ex-metalúrgico que está encarcerado em Curitiba e, dizem, apaixonado e pronto para casar quando deixar a cela atual, e também pelo que, bem ou mal, Lula fez pelo Nordeste, a partir da tarefa hercúlea de tirar leite de pedra para tornar realidade a transposição das águas do rio São Francisco, também conhecida como interligação de bacias. O resumo da ópera é simples: o Messias que grande parte do Nordeste ainda espera é o Lula, não o Jair. Daí, tudo se explica, ainda que não se justifique…
Nonato Guedes