A visita do ex-governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, presidente regional do PSB e presidente nacional da Fundação João Mangabeira, ontem, ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Curitiba, na cela da Superintendência da Policia Federal, onde ele está recolhido, traduziu postura de coerência do líder socialista paraibano que, ainda no exercício do segundo mandato, reaproximou-se do PT e trouxe à Paraíba tanto Lula como a ex-presidente Dilma Rousseff para assistirem à chegada das águas da transposição do rio São Francisco. Ricardo fez-se acompanhar na visita pelo presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, como parte da estratégia em que se empenha para agregar partidos de oposição, apesar das resistências e restrições do ex-presidenciável Ciro Gomes ao PT e ao próprio Lula. O ex-governador paraibano também esteve no acampamento Lula Livre, que é mantido nas proximidades do prédio da Polícia Federal na Capital paranaense, por militantes intimoratos do Partido dos Trabalhadores.
Já há algum tempo Ricardo cogitava fazer visita a Lula. Numa das ocasiões, ainda como governador, chegou a ser barrado na companhia de outros governadores, quando a Justiça decidiu restringir visitas a Lula na cela da PF em Curitiba, diante da romaria diária que vinha se formando às dependências da prisão. O ex-presidente cumpre pena por acusações de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, mas tem insistido na sua inocência e mobilizado a assessoria jurídica para abreviar seu tempo de permanência na prisão. O socialista paraibano confirmou à imprensa que a motivação do encontro, ontem, foi a construção de uma frente ampla entre o PSB e o PDT. No contato com militantes que estão acampados, elogiou a resistência deles e aproveitou para acicatar parte da população que, no seu ponto de vista, está adormecida, talvez por estratégias equivocadas nossas, talvez pelo poder de manipulação que foi criado no mundo atual, principalmente da internet.
Ricardo preveniu, entretanto, que a resistência tende a crescer cada vez mais, na proporção dos desatinos cometidos pelo governo do presidente Jair Bolsonaro, que hoje visita o Nordeste dentro da sua tática de blindar o governo de focos de críticas e reprovação. No entendimento de Ricardo Coutinho, as pessoas começam a perceber claramente que não há caminho no caminho em que está o Brasil atualmente. Salientou que até os mais fanáticos estão tendo consciência dessa realidade, numa alusão aos eleitores ortodoxos que imantaram Bolsonaro na disputa presidencial como O Mito e hoje desapareceram até das redes sociais por falta de argumentos para sustentar a defesa da apologia. Do ex-presidente Lula, Ricardo e Luppi ouviram o apelo para que dissessem ao povo, lá fora que ele está motivado e que lutará até o fim para desmascarar o que considera uma injustiça.
Houve espaço para manifestações outras de Coutinho dentro de um enredo que na Paraíba é bastante conhecido: a alegada falta de compromisso do governo de Jair Bolsonaro com os verdadeiros interesses populares e a denúncia de que o atual presidente estaria assumindo atitudes entreguistas, oferecendo de bandeja riquezas do patrimônio nacional a países que constituem potências econômicas e que cobiçam áreas estratégicas como a Amazônia. A visita de Ricardo a Lula estabelece um contraponto com a participação do governador João Azevêdo, também do PSB, na reunião, hoje, com o presidente Jair Bolsonaro, no Recife. O encontro é aberto à presença de governadores da região Nordeste e de outros Estados, como Espírito Santo e Minas Gerais.
Não é o caso de ver chifre em cabeça de cavalo no episódio da participação de Azevêdo no encontro com o presidente Jair Bolsonaro. Trata-se de uma reunião institucional a que ele não poderia se furtar diante da perspectiva de anúncio de um Plano de Desenvolvimento do Nordeste, o que, é claro, interessa de perto aos paraibanos, que têm sido de alguma forma penalizados pelo governo federal em termos de tratamento adequado. Azevêdo, aliás, levará propostas próprias, entre as quais a interligação de Capitais do Nordeste via ferrovias, um empreendimento arrojado que passa necessariamente pelo concurso do governo federal.
No que tange aos desdobramentos da visita de Ricardo Coutinho ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não se deve perder de vista que isso reforça os laços com o PT, do qual Coutinho foi praticamente expulso quando queria ser candidato a prefeito de João Pessoa. E na esteira desse aggiornamento, Ricardo tenta se credenciar no cenário nacional talvez imaginando que pode se sair bem se, afinal de contas, Fernando Haddad, ainda que originário de um Estado influente como São Paulo, amealhou 45 milhões de votos ao Planalto em 2018. Se tudo correr bem, sem ameaça de qualquer calvário, Ricardo ainda pode agitar a política paraibana e dar as cartas. A conferir!
Nonato Guedes