A hipótese de prorrogação, por dois anos, do mandato do prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV), como parte de medida de caráter nacional com tramitação no Congresso, já começa a ser encarada como presente de grego pelos opositores do alcaide da Capital, reeleito em 2016. Se a PEC ora em discussão for aprovada, dentro da filosofia de coincidência das eleições gerais no país e, também, como medida de contenção de gastos, o mais afetado tende a ser o PSB, que sonha reconquistar a edilidade com seu principal nome, o ex-governador Ricardo Coutinho, presidente estadual da agremiação. Ricardo foi eleito duas vezes à prefeitura em 2004 e 2008, renunciando para ser candidato ao governo em 2010. Fez gestões que o credenciaram como liderança emergente no cenário paraibano, tanto assim que foi eleito e reeleito ao Palácio da Redenção e contribuiu, de forma decisiva, para a vitória do seu candidato, João Azevêdo, ao governo estadual, em primeiro turno, em 2018.
Ao deixar o Palácio da Redenção e passar a faixa a João Azevêdo, Coutinho passou a figurar automaticamente em listas de prováveis candidatos com cacife para a eleição seguinte, que seria a de prefeito de João Pessoa, no próximo ano. O coro foi reforçado diante da estratégia que Ricardo adotou no pleito do ano passado e que o deixou sem mandato a de permanecer até o último dia do mandato no cargo, a fim de garantir que o projeto socialista que empalmou não sofreria solução de continuidade. O ex-governador não descartou a hipótese de tentar um retorno ao Paço Municipal, mas lembrou que há outros nomes dentro do PSB e do bloco de sustentação oficial, alertando, ainda, para a necessidade de abertura de espaços para outros quadros políticos. Os socialistas ou girassóis não tomaram ao pé da letra as declarações de Ricardo sinalizando hipótese de não ser o cabeça de chapa. Mas sentem-se empacados diante da tese da prorrogação, que tende a prosperar com facilidade no Congresso, tendo em vista que parlamentares federais são reféns de lideranças municipais.
Caso o calendário seja mantido e, portanto, haja eleição em 2020, o PSB deverá tentar uma aliança preferencial com o PT sem descartar, todavia, outras legendas que estão na base de Azevêdo. Nas hostes petistas tem sido ensaiada a alternativa de lançamento de candidato próprio, com chances para o ex-deputado federal Luiz Couto, que não ganhou a eleição ao Senado e atualmente ocupa uma secretaria da gestão de Azevêdo. Mas os petistas paraibanos admitem, em off, que igualmente seria bem acolhida uma proposta de chapa com Ricardo Coutinho na cabeça e Luiz Couto na vice. Há petistas que consideram esta última formação imbatível. O PTB, que está na base de Azevêdo, cogita lançar a candidatura do deputado estadual Wilson Filho, enquanto o DEM, que é outro partido da base, vinha cogitando preparar nomes de peso para uma disputa em faixa própria. Tudo isto deixará de ser cogitado se a prorrogação, enfim, for acatada no Congresso.
No jogo para a sucessão em João Pessoa o deputado estadual Wallber Virgolino, atualmente filiado ao Patriota, tem cogitado uma possível migração para o MDB, com a condição de ser oficializado candidato à prefeitura. Há acenos de lançamento de candidaturas por outras siglas. Na órbita do esquema que atualmente comanda a prefeitura, Luciano Cartaxo aparentemente está enfrentando dificuldades para lançar um candidato competitivo à sua cadeira. Um dos nomes mais em evidência é o de Diego Tavares e há menção de outros nomes do arco de forças que se confronta com a administração estadual. Os pré-candidatos do esquema de Luciano, na avaliação de observadores, não têm grande densidade para vencer nas urnas, por exemplo, o ex-governador Ricardo Coutinho. Ficando Cartaxo por mais dois anos, uma vez aprovada a prorrogação, o esquema político que ele comanda estará, de certa forma, representado. Aliados ortodoxos de Luciano dizem que, se para o esquema socialista a prorrogação é um presente de grego, para o atual gestor é uma dádiva que cai dos céus. Afinal, a disputa poderia endurecer e arrastar para a derrota uma candidatura que não empolgue.
Um deputado estadual que participa de articulações de bastidores para as próximas eleições municipais informa que a prorrogação será uma espécie de ponto fora da curva para os opositores de João Azevêdo-Ricardo Coutinho. Diante das múltiplas implicações que seriam ocasionadas, a discussão sobre nomes para concorrer tende a desaquecer, fixando-se um estado de expectativa sobre o potencial da emenda que provocará nova reviravolta nas Capitais e cidades médias e pequenas de todo o país.
Nonato Guedes