Numa entrevista coletiva que concedeu no fim de semana na cidade de Cajazeiras, onde esteve para receber homenagem pela sua atuação administrativa em favor da região do Sertão, o ex-governador Ricardo Coutinho, presidente estadual do PSB, não poupou críticas aos integrantes do chamado G-10, um grupo de deputados estaduais supostamente aliados do governo João Azevêdo, mas independentes em algumas votações de matérias de interesse do oficialismo. Ricardo deixou claro que não há meio termo na relação política, observando que qualquer posicionamento, a favor ou contra, deve ser incondicional e afirmativo.
O ex-governador, sem mencionar nomes, insinuou que pode estar havendo até mesmo interesse de chantagem por parte de alguns expoentes do grupo na Assembleia Legislativa e sugeriu que o governador João Azevêdo procure obter uma definição clara da tendência do referido agrupamento para, desta forma, delinear melhor as posturas que deve adotar no campo político. Ricardo lembrou que no seu primeiro governo enfrentou contestações na sua base que lhe criaram dificuldades, mas avaliou que na segunda gestão, encerrada em dezembro de 2018, contou com uma coesão maior na bancada, dispondo de tranquilidade para levar adiante os projetos da administração socialista.
Até agora o governador João Azevêdo tem procurado contemporizar com os que se anunciam integrantes do G-10, chegando a recebê-los em audiência ou para despachos e procurando encaminhar reivindicações que são formuladas. Mas o chefe do Executivo tem dito a interlocutores que a perspectiva de adesão do G-10 é instável e varia de acordo com o humor dos deputados. Uma das expoentes do G-10 é a deputada de primeiro mandato Pollyanna Dutra, ex-prefeita de Pombal e filiada ao PSB, que tem reivindicado respeito a posições divergentes que eventualmente tenha em relação a atos do governo estadual. Pollyanna já sinalizou, inclusive, com a perspectiva de deixar as fileiras do PSB e ingressar em um outra agremiação onde disponha de liberdade para exercer efetivamente o seu mandato, mas não há registro de passos concretos de sua parte para a desfiliação da legenda.
O ex-governador Ricardo Coutinho, na entrevista, negou que tenha interferência na gestão de João Azevêdo, ressaltando que o atual governador tem plena autonomia para administrar conforme o seu estilo e a realidade da conjuntura. Diante da indagação sobre se confirma que teria pressionado para que grande parte dos seus secretários fosse mantida pelo sucessor, o ex-governador salientou que a permanência de alguns deles foi decidida pelo próprio João Azevêdo, dentro da filosofia de manter a solidez de projetos que encontrou encaminhados pela gestão dele. Ricardo e João mantêm estilos diferentes, mas procuram cultivar o respeito mútuo. O governador, por exemplo, participou da reunião no Recife com o presidente Jair Bolsonaro e disse que ela foi proveitosa, aludindo a recursos que ficaram assegurados para a Paraíba. Já o ex-governador Ricardo Coutinho, em redes sociais, não passou recibo quanto a um provável impacto da primeira visita do presidente ao Nordeste e cobrou de Bolsonaro o resgate de investimentos e benefícios que são devidos à região pelo governo federal.
Nonato Guedes