A PEC fixando a prorrogação de mandatos de prefeitos e vereadores por mais dois anos vai sendo bombardeada gradativamente e deverá ser inviabilizada na Câmara Federal, frustrando a ambição de prefeitos como Luciano Cartaxo, de João Pessoa, e Romero Rodrigues, de Campina Grande, que não se sentiriam constrangidos em permanecer mais algum tempo nos cargos e dispor do poder caso decidissem concorrer ao governo do Estado em 2022. No reverso da medalha, partidos como o PSB fulminam a tese da prorrogação, não apenas porque a considerem antipática e antidemocrática, mas porque já têm nomes de expressão lançados para concorrer à sucessão municipal no próximo ano. É o caso, por exemplo, do ex-governador Ricardo Coutinho, que está sem mandato e é pressionado a disputar a prefeitura que já ocupou por duas vezes como tática para reconquistar uma cidadela perdida pelos socialistas em 2012 com a ascensão do já reeleito Cartaxo, do PV.
Em Campina Grande, Romero Rodrigues, que também foi reeleito, sente-se especialmente motivado agora para dispor de mais dois anos caídos do céu na prefeitura porque passou a presidir um partido, o PSD, depois que se desligou do PSDB, onde, segundo costuma dizer, era índio. No PSD, que foi dirigido por Rômulo Gouveia (falecido), Romero é cacique. Tem poder de decisão e, ainda por cima, cultiva canais de interlocução diretos com o governo do presidente Jair Bolsonaro, que lhe tem prestigiado com ações administrativas de impacto. Tudo isto pavimentaria um cenário em que Rodrigues figurasse como candidato a governador em 2022 e com chances, caso tenha a habilidade de massificar seu nome em regiões importantes do interior da Paraíba, onde não goza de popularidade.
Tanto Luciano quanto Romero têm Senas acumuladas que os levam a cortejar a conquista do governo do Estado. Primeiro, governam as duas maiores e mais influentes cidades da Paraíba. Prepararam-se para entrar no páreo ao Palácio da Redenção em 2018, mas recuaram depois da decisão do governador Ricardo Coutinho (PSB) de permanecer até o último dia do mandato no cargo, como estratégia para reforçar a eleição do seu sucessor, João Azevêdo, o que aconteceu em primeiro turno. O recuo de Cartaxo e Rodrigues deveu-se, também, a divergências que eclodiram na esfera da oposição paraibana, justamente por causa da ambição idêntica que os dois gestores alimentaram para o pleito do ano passado ou seja, eles queriam a mesma vaga, o que era, por óbvio, impraticável. Tentaram contornar o impasse lançando mão de nomes dos clãs familiares para formarem uma chapa. Foi assim que lançaram Lucélio Cartaxo, irmão gêmeo de Luciano, para governador, e Micheline Rodrigues, mulher de Romero Rodrigues, para vice, composição que teve ainda o aval do ex-senador Cássio Cunha Lima, então fortemente cotado para se reeleger. A chapa Lucélio-Micheline foi batida em primeiro turno por João Azevêdo-Lígia Feliciano e Cássio, de forma surpreendente, perdeu a reeleição, depois de ter liderado por um bom tempo pesquisas de intenção de voto. Ficou em quarto lugar, num desempenho que foi injusto com a sua atuação parlamentar naquela Casa do Congresso.
Não passando a prorrogação de mandatos, como tudo indica que sim, Ricardo Coutinho terá amplo cacife para estragar a festa que as oposições tentam montar para 2020 no período eleitoral de disputa de prefeituras. Os socialistas começam a espalhar que é questão de honra a retomada da Bastilha, como chamam a prefeitura de João Pessoa, e identificam em Ricardo Coutinho o nome inquestionável para promover essa retomada, tanto porque conhece os meandros da disputa local como porque sempre foi bem votado na Capital paraibana, na qual investiu fortemente nos dois mandatos de governador que exerceu. Em 2016, o PSB foi o que mais elegeu prefeitos, cerca de 52, entretanto, a cidade mais importante que conquistou foi Sousa, no sertão, a sétima em número de eleitores conforme o mapa oficial do Tribunal Regional Eleitoral.
Quando estava no Palácio da Redenção e foi confrontado com o calendário de eleições municipais, Ricardo Coutinho calculou que teria o condão de transferir votos para Estelizabel Bezerra, em 2012, e para Cida Ramos, em 2016. Foi um cálculo errado Luciano Cartaxo bateu as duas candidatas, que não lograram, sequer, passar para o segundo turno. Em 2016, Cartaxo chegou a infligir resultado humilhante aos adversários, principalmente ao esquema ricardista, quando ousou liquidar a fatura contra Cida Ramos já no primeiro turno. No arraial socialista, afirma-se que essas coisas são águas passadas. Mas é fato que Ricardo, o líder maior, pesca nessas águas para extrair lições sobre o pleito à frente, em que deverá, ele mesmo, protagonizar novamente papel de relevo. A conferir!
Nonato Guedes