As primeiras eleições diretas para prefeitos das Capitais, pós-ditadura militar, realizadas em 1985, registraram em João Pessoa a participação do Partido dos Trabalhadores, cuja estreia na política paraibana havia se dado em 1982 com a candidatura de Derly Pereira ao governo, que ficou esmagada pela polarização entre Wilson Braga, do PDS (vitorioso) e Antônio Mariz, do PMDB. Em 85, o diretório estadual petista presidido por Derly descartou qualquer possibilidade de coligação entre o PT e o PTB em torno do nome do ex-governador Tarcísio Burity. Fez, então, uma convenção para escolher o candidato próprio, que foi disputada entre o advogado Wanderley Caixe, recém-filiado ao petismo, oriundo do PMDB, e José Alves. O grupo que apoiava Alves fez ressalvas ao fato de Caixe ter defendido o voto útil em 82 quando fora candidato a deputado federal pelo PMDB.
Wanderley Caixe, porém, era um antigo ativista do Centro de Defesa dos Direitos Humanos da Arquidiocese da Paraíba, dirigida pelo combativo arcebispo Dom José Maria Pires e, na ocasião, dirigia o seu próprio Centro, entidade civil de prestação de serviços, desligado da Pastoral. Em 82 fora candidato a deputado federal pelas chamadas candidaturas populares do PMDB e ficara numa suplência. Em entrevista a Maria Antônia Alonso de Andrade, confessou que teve dificuldades para penetrar na fechada estrutura do PT, enfrentando um certo boicote inicial. Segundo ele, nossa proposta era também alargar o leque do PT, queimar o estreitismo daquela militância petista inicial, do PT como grupinho em que não entrava mais ninguém. Essas declarações e informações constam do livro O Partido dos Trabalhadores na Paraíba, do professor Paulo Giovani Antonino Nunes.
Caixe venceu a convenção e foi homologado candidato a prefeito de João Pessoa tendo como vice o veterinário Anísio Maia. O slogan da campanha era Nem usineiro nem acordão, nós somos oposição. No primeiro caso, era uma referência ao deputado Marcus Odilon Ribeiro Coutinho, descendente de tradicional família de usineiros da região da várzea da Paraíba, com base eleitoral em Santa Rita, que concorreu pelo PTB tendo o apoio do ex-governador Tarcísio Burity, então deputado federal. O acordão referia-se à aliança feita pelo PMDB com o PDS-PFL liderado pelo governador Wilson Braga, resultando na chapa Carneiro Arnaud (prefeito) e Cabral Batista (vice). Pelo menos três máquinas administrativas influentes sustentavam a chapa Carneiro-Cabral (o governo federal, titulado por José Sarney), o governo estadual, com Wilson Braga, e a prefeitura da Capital, nas mãos de Oswaldo Trigueiro, que fora escolhido por via indireta.
A historiadora Maria Antônia Alonso lembra que o PT não tinha, na época, áreas de influência em João Pessoa, possuindo apenas penetração em algumas categorias sociais, a exemplo do segmento universitário, e tentava chegar à periferia por meio de associações de moradores e comunidades de base. A plataforma do Partido era baseada nas grandes propostas de nível nacional rompimento com FMI, reforma agrária e a nível local a principal proposta era a criação dos Conselhos Populares. Como estratégia de campanha foi dada ênfase aos debates, visitas e mini-comícios. O então líder metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva participou do comício principal no Ponto de Cem Réis, onde fez críticas à Nova República, movimento que uniu Tancredo Neves a dissidentes do regime militar como José Sarney. O candidato Wanderley Caixe dirigia ataques tanto à Aliança Democrática quanto ao PTB, considerando-os igualmente representantes do fascismo e das famílias políticas tradicionais da Paraíba.
Mas como nota Paulo Giovani Antonino, Caixe também era atacado. Durante um encontro de produtores rurais sobre reforma agrária, foram distribuídos cartazes enfatizando sua participação na luta armada contra o regime militar. Wanderley Caixe distribuiu nota à imprensa condenando o fato. Ali verificamos que os velhos chefões do reacionarismo mais uma vez serviram de biombo para esconder o egoísmo e a insensibilidade diante do apelo nacional por um país melhor, tangenciou ele. A campanha de Caixe, como admite Paulo Giovani, não conseguiu ter um bom desempenho. O jornalista Carlos Aranha ainda convocou artistas, professores, intelectuais, militantes, além de estudantes e profissionais em geral para se reunirem e elaborarem um plano de reforma da candidatura. Mas os piores prognósticos dentro do próprio PT se confirmaram. Caixe ficou em quarto lugar, atrás de Carlos Gláucio, então neófito na política, lançado por um partido novo, sem grandes recursos. O confronto foi mesmo entre Carneiro e Odilon, com a vitória do peemedebista por cerca de 10 mil votos, resultado que foi encarado por analistas da imprensa como vitória de Pirro diante do peso da estrutura colocada a serviço da chapa. Carneiro não milita mais em política e Wanderley Caixe faleceu em Ribeirão Preto, São Paulo, onde possuía familiares e militância.
Nonato Guedes