Vamos aos fatos: o Brasil contabiliza atualmente um universo de cerca de 13 milhões de desempregados. A cada dia, contratados e funcionários são dispensados do trabalho a pretexto de contenção de despesas. Para completar, o governo do presidente Jair Bolsonaro, através do ministro da Economia, Paulo Guedes que por enquanto está com bola cheia decreta que nos próximos anos não haverá concursos públicos porque há excesso de servidores no quadro do serviço público, por irresponsabilidade atribuída – com soi acontecer aos governos anteriores. O resultado de tudo isso? O Brasil está virando um imenso deserto. Ou, se quiserem, um território habitado por parasitas compulsórios os que são obrigados a viver no ócio porque não há espaço no mercado de trabalho.
A saída? Pegar o carro, ônibus, até mesmo avião se dinheiro houver e bater em retirada. Isto mesmo. Sair do Brasil, largar os amigos, o antigo ambiente de trabalho, as paisagens naturais, trancar matrículas em escolas e universidades, esquecer o Carnaval. Infelizmente o Brasil está se tornando o País do já teve. Mas não há crueldade maior do que penalizar trabalhadores que desejam trabalhar, em qualquer idade, para se sentirem úteis, desenvolverem suas aptidões e, naturalmente, garantir com decência e honestidade o pão de cada dia. O governo investe com força em aposentadorias. Calcula que 40% dos funcionários se aposentarão nos próximos cinco anos, o que reduziria substancialmente os valores das folhas. Todas as atenções da equipe de Bolsonaro, por ordem expressa deste, estão concentradas no esforço para aprovação da reforma da Previdência. Não se passa um dia sem que o tema não frequente o noticiário.
Diz o ministro Paulo Guedes, em tom doutoral, como convém a ministros de todo e qualquer governo, que as gestões anteriores contrataram servidores em excesso, ocasionando um inchaço da máquina pública. Este é um fenômeno que ninguém nega. A própria Era PT, apresentada à sociedade como inovadora nos costumes, na moral e na ética, avançou com gosto no aparelhamento da máquina do serviço público, organizando autênticos cabides para acomodar companheiros que seguraram bandeirinhas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas memoráveis campanhas eleitorais que alçaram a agremiação ao poder. O Estado tem se transformado num mastodonte, ou, se quiserem, num paquiderme. Em outras palavras, numa pesada máquina onde se gasta muito e nada se arrecada.
Foi recomendado pelos donos do poder ao cidadão comum brasileiro que investisse em concurso público. Como tudo que é novidade no Brasil, passou-se com rapidez impressionante da escassez para o excesso. Legiões de concurseiros passaram a pipocar em todas as regiões do país. Gente desempregada passou a comprar jornais impressos para folhear páginas com indicação de concurso para qualquer coisa, para tudo de gari a ministro do Supremo Tribunal Federal. A onda não foi estancada porque alimentou-se a ilusão de que havia vaga para ser preenchida. Os salários variavam entre razoáveis e altamente compensadores. Por último, um chamariz irresistível num país devastado por escândalos de corrupção e pela cupidez de elites políticas e governantes: estava se extinguindo, aos poucos, a famigerada indústria do apadrinhamento político, que induzia à contratação de apaniguados, mesmo que sem qualificação. Em lugar disso, tomava assento a premiação do mérito, da capacidade daqueles que se submetiam a longos períodos de insônia e a desgaste físico em troca da perspectiva de conseguir uma vaga no mercado de trabalho, inclusive, no serviço público.
O tempo foi passando e tanto no governo federal como nos governos estaduais iam se acumulando os percentuais de candidatos ou candidatas aprovadas em concursos públicos. Só que os aprovados ou as aprovadas não recebiam chamamento para marcar ponto em repartições ou outros locais de trabalho ou ocupação. Simplesmente porque não havia vaga. Ora, o elementar era que se fizesse o concurso com a garantia da vaga. Mas no Brasil as coisas não funcionam assim. Agora, para filtrar contratações, a equipe de Bolsonaro cria quatorze novos critérios para concursos. Valeu, ministro Paulo Guedes. Valeu, presidente Jair Bolsonaro. Mas quem ainda tiver um dinheirinho em caixa, não perca tempo: dê férias ao Brasil e vá para o exterior tentar sobreviver. Aqui não há perspectiva, lamento ter que informar.
Nonato Guedes